ESTOU ATÓNITO
Estou atónito com o que se passa em Portugal. Não, nada tem a ver com o governo ou com os partidos que o sustentam. Nada do que façam ou digam me espanta. Nem o Presidente da República (?) me surpreende no seu jogo de sombras e silêncios ensurdecedores e de despudorado apoio a este governo.
O que me traz atónito é a resposta que a oposição parlamentar e não parlamentar dá à forma como aquelas figuras, pela sua actividade ou passividade activa, estão a desferir, golpe atrás de golpe, na Democracia Constitucional implantada com o 25 de Abril de 1974.
Parece que as oposições estão inebriadas pelo “jogo democrático”, como se a actual situação decorresse da natural diferença ideológica e respectivo debate ou confronto de ideias. Mais ou menos críticos relativamente ao governo e ao Presidente, todos se comportam como se estivéssemos numa normal disputa política.
Estou atónico, será que ainda não entenderam que no final desta legislatura nada restará de Abril, nada dos seus valores, nomeadamente aqueles que são transversais à maioria dos portugueses.
Estou atónito porque não entendo as razões para a actividade passiva da oposição. Os partidos com representação parlamentar, assim como as figuras e os partidos que emergiram das últimas eleições, deixaram-se cair no espécie de turpor.
No meio desta apatia gritante (para mim), sobressaem alguns, poucos comentadores (jornalistas e políticos), bem com a CGTP. Mas são poucos, mesmo que Mário Soares empreste também a sua voz ao coro daqueles que protestam contra as diatribes de que estamos a ser alvo.
Repito, estou atónito, o que provocará a apatia latente da maioria dos nossos representantes políticos?
Onde pára a comunicação tão activa na defesa da democracia no tempo do José?
Serão aqueles poucos que levantam a sua voz contra o actual estado de coisas que estão errados?
Será tudo isto normal?
Será normal o que estão a fazer a Portugal e aos Portugueses contribuintes?
Será que não estamos perante um golpe de estado progressivo e palaciano?
Não estarão eles a derrubar paulatinamente o regime implantado pelo Movimento dos Capitães?
Não representarão essas alterações um retrocesso político e civilizacional?
Onde estamos e para onde vamos?
Será tudo normal?
Será a pobreza crescente normal?
Será o desemprego normal?
Será normal o roubo aos reformados, pensionistas e funcionários públicos?
Serão normais os ataques à Constituição e ao Tribunal Constitucional?
Será normal o êxodo dos jovens?
Será normal o controlo da comunicação?
Será normal a depredação do tecido económico nacional?
Será normal a venda das Empresas Públicas estratégicas?
Será normal a opressão em que nos estão a mergulhar?
Por situação idêntica, mas de sinal contrário, houve uma Manifestação na Fonte Luminosa.
Salazar e o salazarismo voltaram com outras roupagens… E, aqueles que me deixam atónito ainda não deram conta…
Só é pena que Mário Soares tenha passado à Reserva e que muitos outros façam agora parte da História.
Carlos Madeira
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