sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

CARTA AO PEDRO

MENSAGEM DE RETRIBUIÇÃO AO PEDRO E À LAURA

por Nuno Barradas a Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2012 às 16:08 ·
Caro Pedro,
Antes de mais os meus sinceros agradecimentos pela amabilidade que tiveste em prescindir dos poucos momentos em que não tens que carregar o país às costas, para pensar um pouco em nós e nos nossos natais.
Retrataste com a clarividência de poucos a forma penosa como atravessamos esta quadra que deveria ser de alegria, amor e união. És de facto um ser iluminado e somos sem dúvida privilegiados em ter ao leme da nossa nau um ser humano de tão refinada cepa.
Gostava também de ser interlocutor de alguém que queria aproveitar o espírito de boa vontade que a quadra proporciona para te pedir sinceras desculpas…a minha mãe.
A minha mãe é uma senhora de 70 anos, que usufruindo de uma escandalosa pensão de mil e poucos euros, se sente responsável pelo miserável natal de todos os seus concidadãos. Ela não consegue compreender onde falhou, mas está convicta de que o fez…doutra forma não terias afirmado o que afirmaste. Tentarei resumir o seu percurso de vida para que nos ajudes a identificar a mácula.
A minha mãe nasceu em Alcácer do Sal começou a trabalhar com 12 ou 13 anos…já não se recorda muito bem. Apanhava ganchos de cabelo num salão de cabeleireiro, e simultaneamente aprendia umas coisas deste ofício. Casou jovem e mudou-se para a cidade em busca de melhor vida. Sem opções de emprego a minha mãe nunca se acomodou e fazia alguns trabalhos de cabeleireira ao domicilio…nunca se queixou…foi mãe jovem e sempre achou que por esse facto era a mulher mais afortunada do mundo. Arranjou depois emprego num refeitório de uma grande fábrica. Nunca teve qualquer tipo de formação mas a cozinha era a sua grande paixão.
Depois de alguns anos no refeitório aventurou-se no seu grande sonho…ter um negócio próprio de restauração. Quis o destino que o sonho se concretizasse no ano de 1974…lembras-te 1974? O ano em que te tornaste livre? Tinhas o quê? 10 anos?
Pois é…o sonho da minha mãe tem a idade da democracia.
O sonho nasceu pequeno, com pouco mais de 3 ou 4 colaboradoras. Com muita dificuldade, muito trabalho e muitas noites sem dormir foi crescendo e chegou a dar trabalho a mais de 20 pessoas. A minha mãe tem a 4ª classe.
Tu já criaste empregos Pedro? Quer dizer…criar mesmo…investir e arriscar o que é teu…telefonemas para o Relvas a pedir qualquer coisa para uma amiga da Laura não conta como criar emprego. A minha mãe criou…por isso ela não compreende muito bem onde errou. Tudo junto tem mais de 40 anos de descontos para a segurança social. Sempre descontou aquilo que a lei lhe exigia. A lei que tu e outros como tu…gente de tão abnegada dedicação, se entretém a escrever, reescrever, anular, modificar…enfim…trabalhos de outra grandeza que ela não compreende mas valoriza.
Pois como te digo, a minha mãe viu passar o verão quente, os tempos do desenvolvimento sem paralelo, o fechar de todas as fábricas da região, os tempos do oásis, as várias intervenções do FMI, as Expos, os Euros, do futebol e da finança…e passou por isto tudo sempre a trabalhar como se não houvesse amanhã. A pagar impostos todos os meses e todos os anos. IVA, IRC, IRS, IMI, pagamentos por conta, pagamentos especiais por conta, por ter um toldo, por ter a viatura decorada, por ter cão, de selo, de circulação, de radiodifusão…não falhando um único desconto para a sua reforma, não falhando um único imposto. E viu chegar as condicionantes da idade avançada sem lançar um queixume. E foi resolvendo todos os seus problemas de saúde que inexoravelmente foram surgindo, recorrendo a um seguro privado, tentando deixar para aqueles que realmente necessitam, o apoio da segurança social. Em mais de 40 anos de contribuição não teve um dia de baixa, não usufruiu de um cêntimo em subsídios de desemprego. E ela dá voltas e voltas à cabeça e não há forma de se recordar onde possa ter falhado. Mas certamente falhou…
Por isso Pedro, quando eu lhe li a tua carinhosa mensagem, que certamente escreveste na companhia da Laura e com um cobertor a cobrir as vossas pernas para poupar no aquecimento, ela comoveu-se, e cheia de remorsos pediu-me que por esta via te endereçasse um sentido pedido de desculpas.
Pediu também para te dizer que se sente muito orgulhosa de com a redução da sua pensão poder contribuir para que a tua missão na terra seja coroada de sucesso.
És de facto único Pedro. A forma carinhosa como te referes aos sacrifícios que os outros estão fazer, faz-me acreditar que quase os sentes como teus. Sei que sofres por nós Pedro. Sei que cada emprego que se perde é uma chaga que se abre no teu corpo…é um sofrimento atroz que te é imposto…e tudo por culpa de quem? De gente como a minha pobre mãe que mesmo sem querer tem levado toda uma vida a delapidar o património que é de todos. Por isso se a conseguires ajudar a perceber onde errou ficar-te-ei eternamente agradecido. A minha mãe ainda é daquele tipo de pessoas que não suporta a ideia de estar a dever algo a alguém...ajuda-nos pois Pedro.
Aceita por favor, mais uma vez, em nome da minha mãe, sentidas desculpas. Ela diz que apesar de reformada e com menos saúde vai continuar a trabalhar para poder expiar o tanto mal que causou.
Continua Pedro..estás certamente no bom caminho, embora alguns milhões de ingratos não o consigam perceber.
Não te detenhas…os génios raramente são reconhecidos em vida.
Um grande abraço para ti.
Um grande beijo para a Laura.

domingo, 23 de dezembro de 2012

OM SONHO DO PASSOS COELHO ( jornal "Público")

O sonho de Pedro Passos Coelho,José Vítor Malheiros, (no Público)


> «"Um terço é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a
> verdade é que não há alternativa. se não damos cabo deles, acabam por
> nos arrastar com eles para o fundo. E de facto não os vamos
> matar-matar, aquilo que se chama matar, como faziam os nazis. Se
> quiséssemos matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre. Há
> gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras são para
> tomar, custe o que custar e que, se nos livrarmos de um terço, os
> outros vão ficar melhor. É por isso que nós não os vamos matar. Eles é
> que vão morrendo. Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais
> que nos outros grupos. E as estatísticas já mostram isso. O Mota
> Soares está a fazer bem o seu trabalho. Sempre com aquela cara de
> anjo, sem nunca se desmanchar. Não são os tipos da saúde pública que
> costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal faz à saúde? Eles
> lá sabem. Por isso, joga tudo a nosso favor. A tendência já mostra
> isso e o que é importante é a tendência. Como eles adoecem mais, é só
> ir dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos. A natureza faz
> o resto. O Paulo Macedo também faz o que pode. Não é genocídio, é
> estatística. Um dia lá chegaremos, o que é importante é que estamos no
> caminho certo. Não há dinheiro para tratar toda a gente e é preciso
> fazer escolhas. E as escolhas implicam sempre sacrifícios. Só podemos
> salvar alguns e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade,
> os que geram riqueza. Não pode haver uns tipos que só têm direitos e
> não contribuem com nada, que não têm deveres.
>
> Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram
> inventadas quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres
> para espalhar estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há
> cretinos que ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é
> preciso podar estes sub-humanos.
>
> Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. Tem é de
> ser o terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não
> contribuem. Tem de haver equidade. Se gastam e não contribuem, tenho
> muita pena... os recursos são escassos. Ainda no outro dia os jornais
> diziam que estamos com um milhão de analfabetos. O que é que os
> analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento? Só vão
> engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta. Portanto, são: os
> analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos,
> os pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não
> somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo,
> os pedintes e os ciganos, claro. E os deficientes. Não são todos. Mas
> se não tiverem uma família que possa suportar o custo da assistência
> não se pode atirar esse fardo para cima da sociedade. Não era justo. E
> temos de promover a justiça social.
>
> O outro terço temos de os pôr com dono. É chato ainda precisarmos de
> alguns operários e assim, mas esta pouca-vergonha de pensarem que
> mandam no país só porque votam tem de acabar. Para começar, o país não
> é competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente. Não digo
> voltar à escravatura - é outro papão de que não se pode falar -, mas a
> verdade é que as sociedades evoluíram muito graças à escravatura.
> Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação para garantir
> o progresso e permite-se o ócio das classes abastadas, que também
> precisam. A chatice de não podermos eliminar os operários como aos
> sub-humanos é que precisamos destes gajos para fazerem algumas coisas
> chatas e, para mais (por enquanto), votam - ainda que a maioria deles
> ou não vote ou vote em nós. O que é preciso é acabar com esses
> direitos garantidos que fazem com que eles trabalhem o mínimo e vivam
> à sombra da bananeira. Eles têm de ser aquilo que os comunistas dizem
> que eles são: proletários. Acabar com os direitos laborais, a
> estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que
> percebam quem manda. Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo
> de ficar sem trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no
> meio da rua. E enchê-los de futebol e telenovelas e reality shows para
> os anestesiar e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de
> hip-hop e assim.
>
> O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços
> essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo. Já os
> convencemos de que combater a desigualdade não é sust entável (tenho
> de mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem
> viver com conforto não há outra alternativa que não seja liquidar os
> ciganos e os desempregados e acabar com o RSI e que para pagar a saúde
> deles não podemos pagar a saúde dos pobres.
>
> Com um terço da população exterminada, um terço anestesiado e um
> terço comprado, o país pode voltar a ser estável e viável. A verdade é
> que a pegada ecológica da sociedade actual não é sustentável. E se não
> fosse assim não poderíamos garantir o nível de luxo crescente da
> classe dirigente, onde eu espero estar um dia. Não vou ficar em
> Massamá a vida toda. O Ângelo (Correia) diz que, se continuarmos a
> portarmo-nos bem, um dia nós também vamos poder pertencer à elite."»
Imagem intercalada 1

sábado, 22 de dezembro de 2012

PRÓXIMAS CONFERÊNCIAS VAGAS LIMITADAS


Ciclo de conferências anti-crise sobre o tema “Emigração no séc. XXI”

NOVA DIÁSPORA PORTUGUESA - EMIGRAR NO SÉCULO XXI

Oradores:

 

7 de Dezembro de 2012, Dias Loureiro: Abrir uma conta e investir em Cabo Verde;

12 de Dezembro de 2012 José Sócrates: Aspetos gerais do financiamento de estudos em universidades Francesas;

19 de Dezembro de 2012 Vítor Constâncio: Ler os sinais do presente para antecipar o futuro;

 21 de Dezembro de 2012 Vale de Azevedo: O mercado de arrendamento em Londres;

9 de Janeiro de 2013 Duarte Lima: Jurisdições internacionais e conflito de competências;

16 de Janeiro de 2013 Luís Figo: Não há almoços grátis;

 23 de Janeiro de 2013 Fátima Felgueiras: Brasil, riscos e oportunidades;

 30 de Janeiro de 2013 Joe Berardo: Preparar o regresso, apostar na cultura;

6 de Fevereiro de 2013 Isaltino Morais: Técnicas avançadas de recursos judiciais.

O acesso é gratuito mas com número de lugares limitado.

Presente de Natal para a trroika( imagens reais de rochas)


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

APELO URGENTE

Algo fácil a fazer e que pode ter significado
DESLIGUE O SEU TELEVISOR QUANDO PASSOS COELHO ESTIVER A TTRANSMITIR A SUA MENSAGEM DE NATAL
 
FAÇA CIRCULAR

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A VERTIGEM

2013: A vertigem

04/12/12 00:10 | Daniel Amaral
Deixo aqui uma sugestão ao leitor: relaxe e esteja atento à remuneração de Janeiro. Se, ao ver o que vê, não cair redondo ? sorria!
Ainda tenho na memória a figura hirta de Sócrates dirigindo-se ao país, com Teixeira dos Santos a tentar enfiar-se pelo chão abaixo. Estávamos em Abril de 2011 e o Governo capitulava, pedindo ajuda externa. Referindo-me ao ex-PM como um D. Quixote lutando contra moinhos de vento, escrevi na altura: "Caiu sem glória, às mãos dos banqueiros, depois de levar o sistema bancário à asfixia". Seguiram-se eleições antecipadas que o PSD ganhou, e a que o CDS se juntou, formando um governo de coligação. Começava o martírio.
A primeira "grande medida" do novo governo PSD-CDS foi ir à banca retirar ?6.000 milhões do fundo de pensões para abater ao défice orçamental. Nada que outros governos antes dele não tivessem feito, mas com uma nuance: logo a seguir lamentava-se, que chatice, agora tinha de pagar as pensões aos bancários... Chegados ao final de 2011, a dívida pública atingia 108% do PIB, bem acima do que herdara do PS. Mas o governo livrou-se de boa. Não fora o fundo de pensões e essa dívida teria subido 3,5 pontos mais.
Admito que esta seja uma análise injusta, porque se tratou de um ano atípico. De facto, o primeiro exercício completo só ocorreu em 2012, com o défice limitado a 5% do PIB. Mas o inevitável aconteceu. O Governo bem se esforçou, esperneou, gemeu. Nada! Aquele défice era impossível. Foi então que teve uma ideia: associar ao défice o resultado da privatização da ANA. E pronto, agora estamos nessa: o Eurostat tem dúvidas, o INE pondera, que se lixe a taça. Para já, a dívida estimada disparou para os 120% do PIB.
Com isto chegamos ao OE-2013, o tal da bomba atómica. Esqueçam os indicadores que lá estão, que não servem para nada, e ninguém acredita neles. O importante é o saque de que precisamos: ?5.300 milhões.
Foi isto que desencadeou o massacre mais violento de que há memória em Portugal. Eu sei que não se tem falado de outra coisa, mas a exacta dimensão do problema ainda não é conhecida. Deixo aqui uma sugestão ao leitor: relaxe e esteja atento à remuneração de Janeiro. Se, ao ver o que vê, não cair redondo - sorria!
Mas ainda não tínhamos absorvido estes números e já o Governo atacava outra vez. Precisava de mais ?4.000 milhões até 2014! Aliás, uma parte deste valor deveria ser utilizada já em 2013.
Bom, digamos que a solução mesmo ideal seria ter o plano estudado até Fevereiro, data em que vai ocorrer a sétima avaliação da ?troika', para criarmos boa impressão... Olho horrorizado para estes números, mastigo-os devagarinho, e sinto que a cabeça me anda à roda, incapaz de processar uma realidade que não entendo.
Que país é este?
Daniel Amaral, Economista

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

UMA CARTA QUE DIZ TUDO

Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.”
Carta que Eugénio Lisboa escreveu a Passos Coelho. O signatário tem hoje 82 anos e, para além de todas as funções que desempenhou e enuncia no final, foi um ensaísta e crítico literário notável. Peço a vossa atenção, porque fala em nome de todos nós. Trata-se de uma reflexão sobre a saúde da nossa pátria e penso que ninguém, de nenhum quadrante, poderá ficar-lhe indiferente.
CARTA AO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL
Exmo. Senhor Primeiro Ministro
Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe.
Para ser inteiramente franco, escrevo-lhe, não tanto por acreditar que vá ter em V. Exa. qualquer efeito – todo o vosso comportamento, neste primeiro ano de governo, traindo, inescrupulosamente, todas as promessas feitas em campanha eleitoral, não convida à esperança numa reviravolta! – mas, antes, para ficar de bem com a minha consciência. Tenho 82 anos e pouco me restará de vida, o que significa que, a mim, já pouco mal poderá infligir V. Exa. e o algum que me inflija será sempre de curta duração. É aquilo a que costumo chamar “as vantagens do túmulo” ou, se preferir, a coragem que dá a proximidade do túmulo. Tanto o que me dê como o que me tire será sempre de curta duração. Não será, pois, de mim que falo, mesmo quando use, na frase, o “odioso eu”, a que aludia Pascal.
Mas tenho, como disse, 82 anos, e, portanto, uma alongada e bem vivida experiência da velhice – da minha e da dos meus amigos e familiares. A velhice é um pouco – ou é muito – a experiência de uma contínua e ininterrupta perda de poderes. “Desistir é a derradeira tragédia”, disse um escritor pouco conhecido. Desistir é aquilo que vão fazendo, sem cessar, os que envelhecem. Desistir, palavra horrível. Estamos no verão, no momento em que escrevo isto, e acorrem-me as palavras tremendas de um grande poeta inglês do século XX (Eliot): “Um velho, num mês de secura”... A velhice, encarquilhando-se, no meio da desolação e da secura. É para isto que servem os poetas: para encontrarem, em poucas palavras, a medalha eficaz e definitiva para uma situação, uma visão, uma emoção ou uma ideia.
A velhice, Senhor Primeiro Ministro, é, com as dores que arrasta – as físicas, as emotivas e as morais – um período bem difícil de atravessar. Já alguém a definiu como o departamento dos doentes externos do Purgatório. E uma grande contista da Nova Zelândia, que dava pelo nome de Katherine Mansfield, com a afinada sensibilidade e sabedoria da vida, de que V. Exa. e o seu governo parecem ter défice, observou, num dos contos singulares do seu belíssimo livro intitulado The Garden Party: “O velho Sr. Neave achava-se demasiado velho para a primavera.” Ser velho é também isto: acharmos que a primavera já não é para nós, que não temos direito a ela, que estamos a mais, dentro dela... Já foi nossa, já, de certo modo, nos definiu. Hoje, não. Hoje, sentimos que já não interessamos, que, até, incomodamos.
Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a faltadela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo. Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais – tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter, para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.
Já alguém, aludindo à mesma falta de sensibilidade de que V. Exa. dá provas, em relação à velhice e aos seus poderes decrescentes e mal apoiados, sugeriu, com humor ferino, que se atirassem os velhos e os reformados para asilos desguarnecidos , situados, de preferência, em andares altos de prédios muito altos: de um 14º andar, explicava, a desolação que se comtempla até passa por paisagem. V. Exa. e os do seu governo exibem uma sensibilidade muito, mas mesmo muito, neste gosto. V. Exas. transformam a velhice num crime punível pela medida grande. As políticas radicais de V. Exa, e do seu robôtico Ministro das Finanças - sim, porque a Troika informou que as políticas são vossas e não deles... – têm levado a isto: a uma total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.
Falei da velhice porque é o pelouro que, de momento, tenho mais à mão. Mas o sofrimento devastador, que o fundamentalismo ideológico de V. Exa. está desencadear pelo país fora, afecta muito mais do que a fatia dos velhos e reformados. Jovens sem emprego e sem futuro à vista, homens e mulheres de todas as idades e de todos os caminhos da vida – tudo é queimado no altar ideológico onde arde a chama de um dogma cego à fria realidade dos factos e dos resultados. Dizia Joan Ruddock não acreditar que radicalismo e bom senso fossem incompatíveis. V. Exa. e o seu governo provam que o são: não há forma de conviverem pacificamente. Nisto, estou muito de acordo com a sensatez do antigo ministro conservador inglês, Francis Pym, que teve a ousadia de avisar a Primeira Ministra Margaret Thatcher (uma expoente do extremismo neoliberal), nestes termos: “Extremismo e conservantismo são termos contraditórios”. Pym pagou, é claro, a factura: se a memória me não engana, foi o primeiro membro do primeiro governo de Thatcher a ser despedido, sem apelo nem agravo. A “conservadora” Margaret Thatcher – como o “conservador” Passos Coelho – quis misturar água com azeite, isto é, conservantismo e extremismo. Claro que não dá.
Alguém observava que os americanos ficavam muito admirados quando se sabiam odiados. É possível que, no governo e no partido a que V. Exa. preside, a maior parte dos seus constituintes não se aperceba bem (ou, apercebendo-se, não compreenda), de que lavra, no país, um grande incêndio de ressentimento e ódio. Darei a V. Exa. – e com isto termino – uma pista para um bom entendimento do que se está a passar. Atribuíram-se ao Papa Gregório VII estas palavras: ”Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.” Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.
De V. Exa., atentamente,
Eugénio Lisboa
Ex-Director da Total, em Moçambique
Ex-Director da SONAP MOC
Ex-Administrador da SONAPMOC e da SONAREP
Ex-Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Londres
Prof. Catedrático Especial de Estudos Portugueses (Univ. Nottingham)
Ex-Presidente da Comissão Nacional da UNESCO
Prof. Catedrático Visitante da Univ. de Aveiro

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

POLVO

POLVO LARANJA ou de outra qualquer cor !

O CLAN DUARTE LIMA


Lá diz o povo, a verdade é como o azeite. Acaba sempre por vir à tona.

"O POLVO" E A OPERAÇÃO FACE OCULTA COM RABO DE FORA

1- A partir de 2008 torna-se evidente que a operação Face Oculta foi redireccionada pela investigação e pelos Media para passar a visar principalmente Sócrates. Era preciso derrubar Sócrates e mudar de governo, porque havia gigantescos interesses em jogo e, em particular, o caso BPN prometia dar cabo do PSD.

2. Das fraudes do BPN ignora-se ainda hoje a maior parte. Trata-se de uma torrente de lama inesgotável, que todos os nossos Media evitam tocar.

3. O agora falado caso IPO/Duarte Lima, de que Isaltino também foi uma peça fulcral, nem foi sequer abordado durante o Inquérito Parlamentar sobre o BPN , inquérito a que o PSD se opôs então com unhas e dentes, como é sabido.
A táctica então escolhida pelo polvo laranja foi desencadear um inquérito parlamentar paralelo, para averiguar se Sócrates estava ou não a «asfixiar» a comunicação social ! Mais uma vez, uma produção de ruído para abafar o caso BPN e desviar as atenções.

4. Mas é interessante examinar como é que o negócio IPO/Lima foi por água abaixo.

5. Enquanto Lima filho, Raposo e Cia. criavam um fundo com dezenas de milhões, amigavelmente cedidos pelo BPN de Oliveira e Costa, Isaltino pressionava o governo para deslocar o IPO para uns terrenos de Barcarena, concelho de Oeiras. Isaltino comprometia-se a comprar os terrenos (aos Limas e Raposo, como sabemos hoje) com dinheiro da autarquia e a «cedê-los generosamente» ao Estado para lá construir o IPO.

Fazia muito jeito que fosse o município de Oeiras a comprar os terrenos e não o ministério da Saúde, porque assim o preço podia ser ajustado entre os amigos vendedores e compradores, quiçá com umas comissões a transferir para a Suíça.

6. Duarte Lima tinha sido vogal da comissão de ética (!) do IPO entre 2002 e 2005, estava bem dentro de todos os assuntos e tinha óptimas relações para propiciar o negócio. Além disso, construiu a imagem de homem que venceu o cancro, história lacrimosa com que apagava misérias anteriores. O filho e o companheiro do PSD Vítor Raposo eram os escolhidos para dar o nome, pois ao Lima pai não convinha que o seu nome figurasse como interessado no negócio.

7. Em Junho de 2007 Isaltino dizia ainda que as negociações para a compra dos terrenos em causa estavam "em fase de conclusão" (só não disse nunca foi a quem os ia comprar, claro). E pressionava o ministro da Saúde: "Se se der uma mudança de opinião do governo, o cancelamento do projecto não será da responsabilidade do município de Oeiras."

8. Como assim, "mudança de opinião do governo"?

9. Na verdade, Correia de Campos apenas dissera à Lusa que o governo encarava a transferência do IPO para fora da Praça de Espanha e que estava a procurar um terreno, em Lisboa ou fora da cidade, para esse efeito.
Nenhuma decisão tinha sido tomada, nem nunca o seria antes das eleições para a Câmara de Lisboa, que iam realizar-se pouco depois, em Julho de 2007.

10. No decorrer do ano de 2007, porém, a Câmara de Lisboa, cuja presidência foi conquistada por António Costa, anunciou que ia disponibilizar um terreno municipal para a construção do novo IPO no Parque da Bela Vista Sul, em Chelas, Lisboa. Foi assim que se lixou o projecto Lima-Isaltino: o ministro Correia de Campos não cedeu às pressões de Isaltino e a nova Câmara de Lisboa pretendia que o IPO se mantivesse em Lisboa. Com Santana à frente da autarquia e um ministro da Saúde do PSD teria tudo sido muito diferente. E os Limas e Raposos não teriam hoje as chatices que se sabe. E Duarte Lima até talvez já tivesse uma estátua no Parque dos Poetas do amigo Isaltino.

11. Sabemos como, alguns meses depois deste desfecho, o ministro Correia de Campos foi atacado por Cavaco no discurso presidencial de Ano Novo, em 1 de janeiro de 2008. Desgostado com as críticas malignas do vingativo Presidente, Correia de Campos pediu a sua demissão ainda nesse mês.

Não sabemos o que terá levado Cavaco a visar dessa maneira um ministro do governo Sócrates, por sinal um dos mais competentes. Que Cavaco queria a pele de Correia de Campos, foi bem visível. Ele foi a causa do fracasso do projecto do IPO/Oeiras e dos prejuízos causados ao clan do seu amigo Duarte Lima e ao polvo laranja (ª).

É bem possível que essa tenha sido a razão.

(ª) - é bom que se entenda que o polvo laranja tem o seu pai no Senhor Silva, hoje PR, que nunca falou sobre o BPN, mas o lodo deste senhor é bem maior !!! Oxalá Portugal fosse uma França !!!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

FARTO

Estou farto disto tudo!
Estou farto de ver o país sequestrado por corruptos.
Farto de ver políticos a mentir.
Farto de ver a Constituição ser trespassada.
Farto de ver adolescentes saltitantes e acéfalos, de bandeira partidária em punho, a lamberem as botas de meia dúzia de ilusionistas.
Farto de oportunistas que, após mil tropelias, acabam a dirigir os destinos do país.
Farto de boys que proliferam como sanguessugas e transformam o mérito em pouco mais do que uma palavra.
Farto da injustiça social e da precariedade.
Farto da Justiça à Dias Loureiro.
Farto dos procuradores de pacotilha.
Farto de viver num regime falso, numa democracia impositiva.
Farto da austeridade.
Farto das negociatas à terceiro mundo.
Farto das ironias, da voz irritante, dos gráficos e da falta de sensibilidade de Vítor Gaspar.
Farto dos episódios inacreditáveis do 'Dr.' Relvas, das mentiras de Passos Coelho e da cobardia de Paulo Portas.
Farto de me sentir inseguro cada vez que ouço José Seguro.
Farto de ter uma espécie de Tutankhamon como Presidente da República.
Farto dos disparates do Dr. Mário Soares.
Estou farto de ver gente a sofrer sem ter culpa.
Farto de ver pessoas perderem o emprego, os bens, a liberdade, a felicidade e muitas vezes a dignidade.
Farto de ver tantos a partir sem perspectivas, orientados pelo desespero.
Farto de silêncios.
Farto do FMI e da Troika.
Farto de sentir o pânico a cada esquina.
Farto de ver lojas fecharem a porta pela ultima vez e empresas a falir.
Farto de ver rostos fechados, sufocados pela crise.
Farto dos Sócrates, Linos, Varas, Campos e outros a gozarem connosco depois de terem hipotecado o futuro do país.
Farto da senhora Merkel.
Estou farto de ver gente miserável impor a miséria a milhões.
Farto da impunidade.
Farto de ver vigaristas, gente sem escrúpulos, triunfar.
Farto de banqueiros sem vergonha, corresponsáveis em tudo, a carpirem mágoas nos meios de comunicação social.
Farto de ver milhares de pessoas a entregarem as suas casas ao banco.
Farto de vergonhas como o BPN e as PPP.
Farto de ver um país maltratar os seus filhos e abandoná-los à sua sorte.
E, finalmente, estou farto de estar farto e imagino que não devo estar só. !
Tiago Mesquita (http://www.expresso.pt/)




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Saudações cordiais
Arlindo Henriques

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domingo, 2 de dezembro de 2012

NÃO DEIXE DE LER... FABULOSO

poucos dias de completar 75 anos, a vida ensinou-me a não perder tempo com indivíduos arrogantes, incompetentes, ignorantes ou incoerentes daí, eu próprio, não entender a razão de estar a escrever-lhe, mas sinto que é um imperativo de consciência que dita esta carta.
Nasci um ano antes do início da segunda guerra mundial (se refiro o ano é apenas porque duvido que o senhor fosse capaz de, pelo facto de errar todas as contas, conseguir, a partir da minha idade, chegar ao ano do meu nascimento) e portanto, ainda miúdo, senti, embora as não vivesse, bem de perto a fome e a miséria. Sou natural de Aljustrel e como algum tempo depois do início da guerra a mina, sustento económico da vila, cessou a actividade, vi gente, muita gente, com fome, a alimentar-se de bolotas ou a comer açorda de coentros e alho, aquilo a que os restaurantes que o senhor deve frequentar chamam de sopa alentejana, sem azeite, ou seja, pão molhado em água a ferver. Anos depois imaginei que tal situação não viria a suportar-se mais no meu país mas, infelizmente o caminho que o senhor está a trilhar e a querer obrigar os portugueses a seguir conduzirá inexoravelmente a uma situação de miséria bem pior do que a que os portugueses já suportaram.
Em Outubro de 1945, alguns meses depois do fim da guerra, entrei pela primeira vez na escola e se lembro esse primeiro dia de aulas é pelo enorme pavor que tenho de que a história se repita.
Na parede fronteira às carteiras estava um crucifixo ladeado por 2 retratos, um senhor de bigode e fardado e um outro que estava de perfil com um nariz grande. Depois de algumas palavras a professora perguntou: Algum de vocês sabe de quem são as fotografias que ladeiam o crucifixo? O “Padreca” alcunha dum moço filho da maior beata da terra e, ao que se dizia, do padre, daí a alcunha, respondeu: São os dois ladrões que foram crucificados com Jesus Cristo. A professora exaltou-se e terminou a arenga dizendo que um retrato era do general Carmona, assim, sem senhor nem nada, Presidente da República e o outro de sua excelência o Senhor Dr. António de Oliveira Salazar, digníssimo presidente do conselho. Não sei se foi premonição se pelo ar da professora o certo é que embirrei logo com o “pencudo” que mais tarde viria a odiar. Porque refiro isto? Porque tenho receio de que os meus netos entrem numa sala de aula onde, no lugar do “pencudo”, estejam as olheiras de Vossa Excelência. Este meu medo funda-se no facto de na entrevista a que a seguir aludirei o senhor não ter falado como ministro das finanças mas sim como primeiro-ministro o que me leva a supor que o senhor se estará a preparar para seguir o percurso do professor de Santa Comba.
Avancemos, deixei de o ouvir, pelas razões que atrás refiro, mas acontece que fui visitar um amigo doente e acamado no dia em que o Senhor dava uma conferência de imprensa, creio que no passado dia 19 e lá tive que o escutar. No fim e após ouvir o comentário do meu amigo, que não reporto apenas porque não utilizo palavras de outros para dizer aquilo que pretendo, respondi ao meu amigo: Não me digas que estiveste a ouvir o “gajo” só para fazeres esse comentário?! Sorrimos os dois, porque o riso aberto já o senhor nos roubou.
Contrariamente ao que pensava a conferência de imprensa ficou a bailar-me nos ouvidos, a seguir, porque tenho gravado, fui ouvir as declarações do seu chefe (ou será o contrário?) feitas antes de ser primeiro-ministro, as declarações de Rafael Correa, Presidente do Equador na conferência realizada em Madrid na reunião entre os países Ibéricos e da América Latina e reler a tradução dum artigo que o senhor publicou no banco central europeu (Excess Burden and the Cost of Inefficiency Public Services Provision) no ano de 2006 (será que se lembra ainda do que então escreveu?) e tal agudizou a necessidade de lhe escrever e, o mais curioso é que a necessidade de gastar, ou perder, tempo com o senhor radicaliza nas mesmas razões que me levam a afirmar que não perco tempo com certas pessoas.
O senhor é arrogante: Só os arrogantes se afirmam donos da verdade absoluta e o senhor afirma e reafirma que o caminho que definiu é o único muito embora vozes autorizadas, até da sua área ideológica, digam que o caminho que o Senhor escolheu conduz o país, ou seja conduz os portugueses, ao precipício.
O senhor é incompetente: O senhor afirmou que com o orçamento de 2012, orçamento que me esbulhou de dois subsídios da reforma para que descontei durante 41 anos, o deficit das conta públicas ficaria nos 4,5% acordados com a troika, mais tarde veio afirmar que afinal o deficit ficaria nos 5% e agora já admite que mesmo esse objectivo não seja atingido. Só um incompetente comete tantos erros numa só operação. O Senhor afirmou e reafirmou que cumpriríamos metas e prazos, abjurando os que reclamavam a redefinição dos mesmos, para depois vir vangloriar-se de ter conseguido alteração das metas e dos prazos que, por pura incompetência, não atingiu. Mas o que revela ainda maior incompetência é o afirmar que uma “receita” que falhou redondamente em 2012 vai, desde que reforçada, produzir resultados diferentes em 2013.
O senhor é ignorante: Ignorante porque ignora a situação de miséria, aberta ou encapotada, em que já vivem mais de um milhão de portugueses e se prepara, com total indiferença, para aumentar o número de miseráveis do nosso país. Ignorante porque recusa as lições que a história nos dá, aconselho o senhor a ouvir as declarações do Presidente do Equador na cimeira Ibero-Americana. Ignorante porque não tira as ilacções que deveria tirar da situação grega. Ignorante porque não escuta as afirmações da directora geral do FMI.
O senhor é incoerente: Porque escreveu, no artigo que atrás refiro, em 2006 que “um estado eficiente podia reduzir para metade a carga fiscal” e está a duplicá-la, quando não a aumentá-la ainda mais. Eu vou recordar-lhe o que o Senhor escreveu sobre Portugal em 2006: “Em Portugal as receitas fiscais valiam 37,1% do PIB ou quase 60% do consumo privado. Se a provisão de serviços públicos fosse eficiente uma carga fiscal equivalente a 37,5% do consumo devia ser suficiente.”
Face ao que atrás ficou escrito, peço-lhe que ponha de lado a arrogância, a incompetência, a ignorância e a incoerência e preste um serviço a Portugal, demita-se e, se lhe for possível, leve também o resto do grupo que nos está a arrastar para o precipício.
No Alentejo, onde cresci e me fiz gente, ensinaram-me que se deve cumprimentar toda a gente, lembro-me de ouvir os mais velhos dizerem: “não se nega a salvação a ninguém”, mas, honestamente, não devo, não posso e não quero cumprimentar o ministro das finanças do desgoverno de Portugal.
Depois de terminar este escrito e antes de o reler estive a ouvir José Afonso que normalmente funciona como bálsamo para as minhas mágoas e ao escutar “O que faz falta é avisar a malta” decidi que esta carta será tornada pública no formato carta aberta.
José Nogueira Pardal