segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

BANCARROTA

Bancarrota: o que já aconteceu nos países falidos (Parte I)
Espanha, França e Alemanha já faliram várias vezes

Ao contrário do que possa pensar, a bancarrota de um país não é uma coisa lá muito rara. Em média, a cada ano que passa, há um país que entra em falência, ou seja, fica sem dinheiro para pagar as dívidas. Em pouco mais de 200 anos registaram-se 290 crises bancárias e 70 bancarrotas. Dizemos-lhe o que aconteceu nos países por onde o Fundo Monetário Internacional (FMI) já passou.

A vizinha Espanha é uma habitué nestas andanças. Em 200 anos faliu 14 vezes, sete das quais no século XIX, mas estreou-se há muito mais tempo: a primeira vez que decretou falência foi em 1557.

Na altura, como agora, a dívida da Espanha era elevada, os juros demasiado elevados para suportar e D. Filipe II mandou confiscar todas as mercadorias valiosas que chegassem aos portos. A família real também teve de «apertar o cinto»: ficou sem o mestre limpador de dentes e o especialista em álgebra e o jantar foi reduzido de dez para seis pratos.

Reincidente é também a França, que em menos de cem anos foi quatro vezes à bancarrota.

A Alemanha também nem sempre foi a «menina bonita» da Europa. Faliu a seguir às duas guerras mundiais. Nos anos 20 um café chegou a custar quase 70 euros e o preço duplicava em poucos minutos.

Portugal já faliu várias vezes e conhece bem o FMI

Portugal também já faliu por sete vezes. Em 1891, a crise foi desencadeada com a falência de dois bancos importantes (o Banco do Povo e o Banco Lusitano). D. Carlos nomeou na altura José Dias Ferreira, bisavô de Manuela Ferreira Leite, para liderar o Governo. Também na altura a função pública sofreu na pele o aperto do cinto: os salários caíram 20%. Portugal ficou 10 anos sem conseguir financiamento externo e um dos primeiros cortes foi nas obras públicas (na altura na construção das vias férreas).

Em 1976 a falência voltou a estar iminente. Mário Soares, na altura à frente dos destinos do país, pediu dinheiro emprestado à Alemanha. Em vez de uma transferência bancária, recebeu um avião a meio da noite.

Na década de 80, viu-se forçado a negociar um empréstimo com o FMI. Mais uma vez liderado por Mário Soares e Mota Pinto, e com Ernâni Lopes como ministro das Finanças, os portugueses tiveram de enfrentar uma forte desvalorização do escudo, o disparo da inflação para quase 30%, o aumento dos impostos e o crescimento do desemprego.

O mau exemplo da Argentina

O caso da Argentina tem quase 10 anos e é dos mais negros. A intervenção do FMI foi um fracasso. O país seguiu as recomendações do Fundo (cortes orçamentais e aumentos de impostos) e com isso foi-se afundando. No final de 2001, as coisas pioraram exponencialmente quando o FMI negou um novo financiamento ao país. À revolta social juntou-se a queda do Governo e a bancarrota. Na altura os argentinos deixaram as suas casas com todo o seu dinheiro e foram depositá-lo nos bancos do Uruguai, o paraíso fiscal na América Latina. O governo congelou o acesso às contas bancárias, limitando os levantamentos a cerca de 200 euros por pessoa por semana. Sem dinheiro, começou a violência nas ruas, a pobreza duplicou, atingindo quase metade da população e a fome espalhou-se. O Governo parou de emitir passaportes porque não tinha dinheiro para os imprimir.

Bancarrota: o que já aconteceu nos países falidos (Parte II)
Conhece os casos mais recentes?

A Islândia foi o primeiro país a falir com a crise financeira recente. Com a moeda local, a krona, a cair a pique, o desemprego a triplicar e com os maiores bancos do país falidos, os levantamentos em moeda estrangeira ficaram limitados: só eram permitidos a quem fosse viajar, mediante exibição do bilhete, ou a quem precisasse do dinheiro para bens essenciais, como alimentos e medicamentos. Para os restantes europeus, a queda do custo de vida islandês para metade foi uma oportunidade para fazer turismo no país dos glaciares. O preço da cerveja caiu para metade.

A crise do Dubai foi rápida, mas atingiu o mundo como um terramoto. Em 2008, o Governo anunciou que não conseguiria pagar a sua dívida de 60 mil milhões de euros e o mundo percebeu que um dos países mais ricos e luxuosos do mundo também era, afinal, vulnerável. Muitos empresários e gestores perderam o emprego nessa altura e abandonaram o país. Milhares de carros de luxo foram abandonados nas ruas e junto ao aeroporto com a chave na ignição, sendo mais tarde leiloados pelo emirado a preços de saldo. Milhares de cartões de crédito foram devolvidos aos bancos e as casas ficaram infinitamente mais baratas.

A Grécia é o caso mais recente e o mais caro. O valor que os países europeus e o FMI acordaram emprestar é o mais elevado jamais aplicado para salvar um país. O Governo cortou os subsídios de férias e Natal à função pública e pensionistas, a idade da reforma aumentou e os impostos também, sobretudo para bens supérfluos como cigarros, álcool ou jóias. A Grécia também não é uma estreante nestas andanças: em 1826 foi à falência e ficou sem crédito internacional por mais de meio século.

Mas nem só de Europa se escrevem as páginas mais recentes da história das falências. Em 2008, o Paquistão também entrou em incumprimento. Sem dinheiro para pagar aos credores por mais de mês e meio, tomou medidas drásticas como desligar a electricidade 12 horas por dia. No mesmo ano, também o Zimbabué foi à bancarrota, abalado por um surto de cólera. Fome, falta de água potável, uma taxa de desemprego de 80% e uma inflação de 66.000% explicam as dificuldades.

Da Rússia com amor

A Rússia também se inclinou perigosamente sobre a bancarrota no fim da década passada, quando a privatização de empresas se fazia em massa (em média 800 empresas por mês) e o poder de compra caiu para metade. A bolsa russa mergulhou no abismo e a negociação teve de ser suspensa, quando o índice caía 65%. O Governo suspendeu os pagamentos a credores durante três meses e a inflação subiu 80% nesse ano.

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