sábado, 8 de março de 2014

LIDO HO JORNAL "PÚBLICO"

O sonho de Pedro Passos Coelho
 Um terço é para morrer. 
Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é que não há alternativa, se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com eles para o fundo. 
E de facto não os vamos matar-matar, aquilo que se chama matar, como faziam os nazis. 
Se quiséssemos matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre. 
Há gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras são para tomar, custe o que custar e que, se nos livrarmos de um terço, os outros vão ficar melhor.
É por isso que nós não os vamos matar. 
Eles é que vão morrendo. 
Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros grupos. 
E as estatísticas já mostram isso. 
O Mota Soares está a fazer bem o seu trabalho. 
Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar. 
Não são os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal faz à saúde? 
Eles lá sabem. 
Por isso, joga tudo a nosso favor. 
A tendência já mostra isso e o que é importante é a tendência. 
Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos. 
A natureza faz o resto. 
O Paulo Macedo também faz o que pode. 
Não é genocídio, é estatística. 
Um dia lá chegaremos, o que é importante é que estamos no caminho certo. 
Não há dinheiro para tratar toda a gente e é preciso fazer escolhas. 
E as escolhas implicam sempre sacrifícios. 
Só podemos salvar alguns e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. 
Não pode haver uns tipos que só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.
Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram inventadas quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres para espalhar estrume e coisas assim. 
Agora já não precisamos e há cretinos que ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso podar estes sub-humanos.
 
1. Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. 
Tem é de ser o terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não contribuem. Tem de haver equidade. 
Se gastam e não contribuem, tenho muita pena... os recursos são escassos. 
Ainda no outro dia os jornais diziam que estamos com um milhão de analfabetos. 
O que é que os analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento?
Só vão engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta. 
Portanto, são: os analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo, os pedintes e os ciganos, claro. 
E os deficientes. 
Não são todos. 
Mas se não tiverem uma família que possa suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo para cima da sociedade. 
Não era justo. 
E temos de promover a justiça social.

 
2. O outro terço temos de os pôr com dono. 
É chato ainda precisarmos de alguns operários e assim, mas esta pouca-vergonha de pensarem que mandam no país só porque votam tem de acabar. 
Para começar, o país não é competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente. 
Não digo voltar à escravatura, é outro papão de que não se pode falar, mas a verdade é que as sociedades evoluíram muito graças à escravatura. 
Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação para garantir o progresso e permite-se o ócio das classes abastadas, que também precisam. 
A chatice de não podermos eliminar os operários como aos sub-humanos é que precisamos destes gajos para fazerem algumas coisas chatas e, para mais (por enquanto), votam, ainda que a maioria deles ou não vote ou vote em nós. 
O que é preciso é acabar com esses direitos garantidos que fazem com que eles trabalhem o mínimo e vivam à sombra da bananeira. 
Eles têm de ser aquilo que os comunistas dizem que eles são: proletários. 
Acabar com os direitos laborais, a estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam quem manda. 
Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua. 
E enchê-los de futebol e telenovelas e reality shows para os anestesiar e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.
3. O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo. 
Já os convencemos de que combater a desigualdade não é sustentável, tenho de mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier, que para eles poderem viver com conforto. 
Não há outra alternativa que não seja liquidar os ciganos e os desempregados e acabar com o RSI, e que para pagar a saúde deles, não podemos pagar a saúde dos pobres.
  • Um terço da população exterminada.
  • Um terço anestesiado.
  • Um terço comprado, o país pode voltar a ser estável e viável. 
A verdade é que a pegada ecológica da sociedade actual não é sustentável. 
E se não fosse assim não poderíamos garantir o nível de luxo crescente da classe dirigente, onde eu espero estar um dia. 
Não vou ficar em Massamá a vida toda. 
O Ângelo diz que, se continuarmos a portarmo-nos bem, um dia nós também vamos poder pertencer à elite."»

 
José Vítor Malheiros
(in Público)
 




 

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