terça-feira, 15 de abril de 2008

VIDA

fim último da vida não é a excelência!!!!




O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista. Vale a pena ler!



"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não

aconselham temeridades.

Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse,

não levam vidas descansadas.

Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa

ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê.

Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da

fortuna familiar.

Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo,

com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro,

lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de

professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança

fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades

modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos

pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica

para o infinito.

É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os

amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas

de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar

forte no Prozac.

É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais

queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos.

A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o

mais leve traço de humanidade.

O que não deixa de ser uma lástima.

Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam

que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"







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