domingo, 13 de outubro de 2013

GOVERNO A VOO DE PASSARO

O GOVERNO (?) A VOO DE PÁSSARO  (1)

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Vamos imaginar-nos longe, em cima, não precisa de ser em Sírius, mas na célebre altura do voo de pássaro, e observar aquilo que em Portugal passa por ser governo, é chamado governo, à falta de outra palavra qualquer. 

Temos um Primeiro-Ministro? Tenho muitas dúvidas que o nome corresponda à função. Passos Coelho só aparece na função de quinze em quinze dias na Assembleia da República, mas podia ser mais um deputado do PSD, que não faria muita diferença. Na Europa, sabemos que entra mudo e sai calado nas reuniões, talvez porque se sinta pouco à vontade junto dos outros Primeiros-ministros. Percebo bem que sim. Cá dentro que função é que tem? Relações com a troika? Não, é com Paulo Portas. Concertação social? Não, é com Paulo Portas. Condução da política económica? Não, é com Paulo Portas. Condução política? Não, é com Portas e Maduro, cada um para seu lado. Finanças? Não, é com Portas e Maria Luís, não se sabendo se é cada um para o seu lado. Relações com o Presidente da República? Sim, mas como o Presidente está sempre a sugerir que não sabe ou não é informado, como devia, também não me parece que haja muito a esperar. Coordena o Conselho de Ministros? Duvido que se possa chamar “coordenação”, visto que o papel do Conselho é escasso, os ministros actuam isoladamente, e é o ministro Marques Guedes que faz muito desse trabalho. 

Que faz pois o Primeiro-ministro? Telefona a muita gente? Sim telefona, comenta as notícias. Escolhe os “recados” a dar? Sim, alguns. Passa o dia com o seu assessor de imprensa, com a obsessão pela comunicação social que tem a sua geração de políticos? Sim. Que ouve alguns interesses, ouve. Que veta algumas escolhas, veta. Que faz outras, faz. Mas quando se quer saber quem decide o quê, aparece um pântano de vazios, fugas, irresponsabilidades, foi ele e não fui eu. Como é que surgem decisões como a do corte nas pensões de sobrevivência? Não se sabe muito bem. Que vem das negociações com a troika, vem. Que passa por Maria Luís e Passos Coelho, passa, que se passeia de Harley-Davidson diante de Mota Soares passeia-se, que chega a Portas por “desenhar”, seja o que for que isso signifique, chega. Mas isto é pouco. Como é pouco o que se sabe sobre a governação, ou a não-governação. Tudo está envolto em enganos, passa-culpas , avanços e recuos, e impunidades várias. No centro, como o vazio no meio da roda, está Passos Coelho.

O GOVERNO (?) A VOO DE PÁSSARO  (2): O HOMEM DOS MÚLTIPLOS CHAPÉUS 
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E que faz o maior portador de chapéus da política portuguesa, o Vice-primeiro Ministro, responsável pela “coordenação económica”, pelas relações com a troika, etc,. etc? Faz de Primeiro-ministro. Anuncia as boas decisões. Oculta as más decisões, exercendo aquilo a que hoje se chama “comunicação politica”. Passeia com a Ministra das Finanças pelo mundo para chegar de mãos vazias. Faz umas frases tiposoundbite para que a sua reprodução pela comunicação social distraia do conteúdo. Distribui umas pseudo-teses cómodas e simples, para circularem em vez de análises. Um exemplo: “desta vez houve negociação política”. Ai houve? Onde, com quem, com que resultados? Ou seja, há dois governos, um de papel, presidido por Passos Coelho; outro de lata brilhante presidido por Paulo Portas.


O GOVERNO (?) A VOO DE PÁSSARO  (3): GOVERNAR POR “DESENHOS”

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Pode ser aliás que não haja nada para saber, é tudo por arroubos, “desenhos”, tentativa e erro, anúncios cirúrgicos por Marques Mendes, recados ao Expresso nos fins de semana para a primeira página. O objectivo é criar “impressões”, e depois, quando as “impressões” caiem dias depois, sem sustentação, o seu efeito útil já existiu. Exemplos: “as privatizações foram as mais transparentes de sempre”, o “governo aumentou as reformas”, “não é necessário mais planos de austeridade”, “agora é que se vai exigir à EDP que participe no esforço nacional”, “o governo negociou os contratos swap de modo a evitar que se pagassem milhões”, PPPs idem, a “economia já deu a volta”, etc., etc. Tudo isto embrulhado em números reais, números imaginados, números previstos, comparação entre o que se previa e que vai acontecer, comparação entre o futuro virtual e a realidade nunca enunciada, tudo o que é mentira é “lapso”, tudo o que é grave é “declaração infeliz”, nada tem consequências. Claro, e a culpa é dos portugueses “piegas”, dos sindicatos comunistas, dos traidores do PSD, dos “socráticos” no PS e do Tribunal Constitucional.



O GOVERNO (?) A VOO DE PÁSSARO  (4): DE MAL A PIOR

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O problema é que desde a última “crise Portas” o carácter disfuncional do governo acentuou-se. Já era mau, agora é pior porque se institucionalizou a diarquia reinante, sem que Portas tenha os verdadeiros poderes para que tem os seus múltiplos chapéus e Passos Coelho mande alguma coisa, entre o alheamento e a indiferença, a esperar que o seu Vice tropece nos seus chapéus como aconteceu na última semana. Será que o Presidente ainda não entendeu que não tem governo, tem um ajuntamento de conveniência em que os egos, as vinganças, as rasteiras, o salvar a sua própria pele são a regra e a motivação de todos os dias? Antes o cancro do governo era Relvas, hoje é Portas, mas em ambos os casos a primeira responsabilidade é de Passos Coelho e Cavaco Silva. E visto a voo de pássaro tudo parece desconjuntado, como efectivamente é. Pobre país, o nosso.



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