sábado, 5 de janeiro de 2013
CARTA AO PASSOS(3)
Amigo Pedro, hoje dirijo-me
a ti. O camarada Van Zeller foi passar o ano nas Maldivas, está demasiado longe
para que a minha voz lhe chegue. Acabei agora mesmo de ler a tua mensagem de
Natal no Facebook e só posso dizer-te que me sinto profundamente desiludido.
Afinal, Pedro, és tão piegas quanto a maioria dos portugueses. A época
natalícia desmascarou-te, despiu-te da armadura de ferro, amoleceu-te.
Falas-nos como se fosses um convidado da Oprah ou um entrevistado do Alta
Definição, esvaindo-se em lágrimas de menino pendurado numa qualquer parede de
um qualquer solar português. Dizes, ó Pedro, que este Natal não foi o Natal que
merecíamos. Reconhece-lo depois de teres acabado com essa gordura social do
décimo terceiro salário. Convenceste-nos de que precisávamos de fazer dieta, e
agora vens vender-nos a banha da cobra em que terás banhado as azevias da
Laura. Lamentas que muitas famílias não tenham gozado na Consoada “os pratos
que se habituaram”, como se os pratos tivessem hábitos. E que muitos não conseguiram
ter a família toda à mesma mesa, como se isso fosse um problema para quem já
nem mesa tem. Quanto mais família! Deves pensar que andamos todos a cultivar
afectos, estimulados quiçá pela literatura da E. L. James. Mas tu não vês, ó
Pedro, que os velhos foram abandonados, as criancinhas deglutidas e os gérmenes
secados que nem figos? Não andas a escutar com atenção o Presidente da
República. Se escutasses, também tu questionar-te-ias sobre o que mais é
preciso fazer para que nasçam crianças em Portugal. E também tu ficarias
fascinado com a mungidura das vacas e os méritos do bolo-rei em bocas
amordaçadas. Os portugueses que não puderam dar aos filhos um simples presente
deviam dar os filhos a este Pedro. Ele que os crie com pratos de Sacavém. Ó
Pedro, tu não és assim. Tu és outra c
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