Assunto: Os silêncios
Um dia bateram-me à porta e anunciaram-me que o governo tinha decidido cortar-me meio subsídio de Natal. Apesar de inconstitucional, compreendi o
sacrifício que o Governo me pedia. Noutro dia bateram à porta do meu pai e anunciaram-lhe que iam cortar meia pensão do Natal. Apesar de considerar que era um roubo, ainda admiti, porque o pais estava em estado de emergência. Depois bateram-me à porta e anunciaram que me iam tirar dois meses de salário e dois meses de pensão ao meu pai. Depois da estupefacção, resignação. A 7 de Setembro, bateram-me à porta para me anunciar que tiravam 7% do salário para dar 5,75% ao patrão e ficavam com os trocos, em principio para os cofres da Segurança Social. Desta vez fiquei indignado. Achei que estava a ser roubado e que estavam a transformar os patrões em receptadores do dinheiro roubado. Em reacção, corri para a rua para protestar. Bateram-me mais uma vez à porta e informaram-me de que o ministro das finanças ia reescalonar as taxas de IRS, de modo a torna-lo mais progressivo. Imaginando que iam poupar os rendimentos mais baixos e taxar fortemente os mais altos, pensei que o Governo, finalmente, voltava ao trilho da lei. Mas para surpresa minha, voltaram a bater-me à porta para me ameaçarem com aumentos brutais no IMI. A minha indignação transformou-se em ira e juntei-me ao movimento nacional de resistentes ao pagamento do IMI. Ainda mal refeito do choque do IMI, bateram-me novamente à porta para me mostrarem nos jornais, em grandes parangonas e cinco colunas, os novos escalões de IRS. Afinal aumentaram as taxas dos rendimentos mais baixos, menos os dos mais altos e não criaram nenhum escalão para os mais ricos. E a progressividade do rei dos impostos diminuiu. A minha raiva subiu de tom e resolvi não mais voltar a votar estou preparado para qualquer acção revolucionária que apareça. Ao fim e ao cabo eu o meu pai e a minha família já não temos nada a perder. (J. Nunes de Almeida, Ericeira)
Maiakovski, poeta russo escreveu, no início do século XX :
> Na primeira noite, eles se aproximam > e colhem uma flor de nosso jardim. > E não dizemos nada. > Na segunda noite, > já não se escondem, > pisam as flores, matam nosso cão. > E na oportunidade > E não dizemos nada. > Até que um dia, o mais frágil deles, > entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, > arranca-nos a voz da garganta. > E porque não dissemos nada, > já não podemos dizer nada. > > Maiakovski (1893-1930) > > Depois Bertold Brecht escreveu: > > Primeiro levaram os negros > Mas não me importei com isso > Eu não era negro > Em seguida levaram alguns operários > Mas não me importei com isso > Eu também não era operário > Depois prenderam os miseráveis > Mas não me importei com isso > Porque eu não sou miserável > Depois agarraram uns desempregados > Mas como tenho meu emprego > Também não me importei > Agora estão me levando > Mas já é tarde. > Como eu não me importei com ninguém > Ninguém se importa comigo. > Bertold Brecht (1898-1956) > > Em 1933 Martin Niemöller criou o seguinte poema: > > Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. > Como não sou judeu, não me incomodei. > No dia seguinte, vieram e levaram > meu outro vizinho que era comunista. > Como não sou comunista, não me incomodei . > No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. > Como não sou católico, não me incomodei. > No quarto dia, vieram e me levaram; > já não havia mais ninguém para reclamar?
Martin Niemöller,(1892-1984)?
> símbolo da resistência aos nazis. > Em 2007 Cláudio Humberto presenteou-nos assim: > > Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima, Depois > incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles; Depois fecharam ruas, onde > não moro; Fecharam então o portão da favela, que não habito; Em seguida > arrastaram até a morte uma criança, que não era meu filho?
Cláudio Humberto, em 09 Fevereiro de 2007
> Também Martin Luther King (1929.1968): > > O que mais me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos > desonestos, dos sem carácter, dos sem ética? o que mais me preocupa é o > silêncio dos bons!. | ||
sábado, 19 de janeiro de 2013
SILÊNCIOS
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