quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A VER SE A GENTE PERCEBE


Vou só ali ao Brasil matar alguém e volto já
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> Por João Miguel Tavares
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> Deixem-me cá ver se eu percebo. Todos os juristas escutados a propósito do
caso Duarte Lima afirmaram que mesmo que o ex-deputado venha a ser condenado à
revelia pelo assassinato de Rosalina Ribeiro dificilmente será extraditado para
o Brasil – porque não se extraditam cidadãos nacionais – e
dificilmente será preso em Portugal – devido a falhas de legislação na
transmissão de sentenças entre os dois países.
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> Seguindo este extraordinário raciocínio, se o caro leitor estiver indisposto
com alguém, tiver um vizinho irritante ou se a sua esposa deixar demasiadas
vezes queimar o arroz ao jantar, tem agora uma forma simples de solucionar o
seu problema. Basta-lhe comprar duas viagens para o Brasil, afogar o motivo de
incómodo numa cachoeira ou baleá-lo à beira da estrada, e raspar-se de lá o
quanto antes. Nem sequer precisa de se dar ao trabalho de cometer o crime
perfeito: apenas assegurar que foge a tempo para Portugal. A partir daí, tem de
ter cuidado nas visitas a Badajoz, por causa da Interpol, mas pode gozar um
justo repouso aqui na piolheira. Seja Duarte Lima culpado ou não, qualquer
pessoa que tenha acompanhado a investigação sabe que o caso fede – e não
é pouco. As provas são fortíssimas, as contradições assustadoras, e é óbvio que
Duarte Lima tem de responder à justiça. E no entanto, acontece esta coisa
espantosa: a única entidade que parece minimamente empenhada em deslindar o
alegado assassinato de uma cidadã portuguesa por um cidadão português é a
polícia brasileira. Portugal, esse, limita-se ao seu papel de offshore da
justiça: quem tem dinheiro consegue sempre escapar.
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