quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O CASO QUEIROZ

Mamões e manhosos
O caso da FPF é apenas um visível exemplo da grave crise de valores morais que atravessa o país


A novela Carlos Queiroz é uma excelente imagem do país que somos. Aquele país que se enverniza com lantejoulas brilhantes mas que é cavernícola, mesquinho, capaz de devorar uma tribo de antropófagos.
Depois de uma triste campanha no Mundial da África do Sul, que revelou um seleccionador medroso, incapaz de aproveitar os talentos de que dispunha para fazer Portugal ir mais longe, chegou a hora dos ajustes de contas.
O trabalho do seleccionador da mama, jogo calculista, à defesa, foi aquilo que se viu. Quando foi a sério, a táctica da mama foi feita em pedaços e a selecção regressou com o rabo entre as pernas.
A mama, a matriz do patético guião táctico, falhou, e, como sempre, ganhou o Mundial quem mais arriscou, quem foi mais audaz, quem se atirou à luta com a generosidade dos heróis.
Soube-se, depois, que Carlos Queiroz deixou atrás de si um rasto de sinais agressivos que foram de cenas de pancadaria a insultos a eito.
Fico-me por aqui no que respeita ao seleccionador porque, de repente, surgiu outra fauna.
Os dirigentes desportivos, que, em vez de dizerem ao homem: Vamos fazer contas que o senhor não serve!, não tiveram a coragem de ser porta-vozes do que o país inteiro pensava.
Assumiram-se manhosos e calculistas e decidiram queimar o seleccionador em lume brando com processos disciplinares sucessivos, ou seja, com moções de censura em cadeia.
Qualquer governo cairia à primeira. Aqui não cai ninguém.
Nem quem joga à mama nem quem gere o futebol com manha. E aí estamos outra vez perplexos. Às portas do Europeu.
Enquanto se lixam jogadores de elite e adeptos entusiasmados, pois percebem que a esperança de vitória mora longe, mamões e manhosos vão-se governando à custa da imundície que eles próprios criaram.
Porém, a tragédia maior nem é esta.
Bem pior é sabermos que o aparelho de estado está cheio disto.
Mamões e manhosos preocupados com os seus umbigos e podrezinhos pessoais e nas tintas para os destinos do país.
O caso da Federação de Futebol é apenas um visível exemplo da grave crise de valores morais que atravessa o país. Bem mais grave do que a crise financeira.
Francicos Moita Flores, professor universitário

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