Perigoso é fazer de conta que não existe
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Inesperadamente, pelo menos para quem não é sueco, a Extrema-Direita arrebatou 20 lugares no Parlamento de Estocolmo. Não é (por enquanto?) façanha suficiente para condicionar a governação, mas assusta meio mundo. Se na Suécia, farol das sociais-democracias europeias, próspera e dinâmica, praticamente imune à crise económica, irrompem com tal fulgor ideias nacionalistas, é de temer o contágio.
Este é primeiro raciocínio. O segundo é ainda mais aterrador: o contágio segue em sentido inverso. Em pés de lã, sem que atribuíssemos à sua ascensão a devida relevância, a Extrema-Direita foi cavalgando por essa Europa fora. Na Dinamarca, o Governo está refém dos seus ditames, a partir do Parlamento. E conquistou posições importantes em países como a Bélgica e a Itália - além da França, de há muito, com Le Pen.
A consolidação da influência dos nacionalistas na Suécia e na Dinamarca, construída por lobos com pele de cordeiro, que refinam o discurso para seduzir o eleitorado, é um desafio à reanálise das causas de fenómenos desta natureza. Tinha-se por mais ou menos adquirido que o fermento era a degradação das condições económicas e o desemprego, capazes de tornar quem é afectado mais sensível ao atiçar do medo xenófobo, quase sempre associado ao papão da criminalidade perpetrada por estrangeiros. O quadro não encaixa nos dois países nórdicos. No mínimo, não chega para explicar o que passa.
Como conter esta onda é a pergunta que, inevitavelmente, se coloca. Durante anos, os partidos do sistema tiveram o bom senso de, jogando o jogo democrático, deixar a Extrema-Direita a falar sozinha ou com meia-dúzia de interlocutores.
Quando, em 2002, Le Pen ficou à beira de vencer as presidenciais francesas, o arrepio na espinha obrigou à "união nacional" em torno de Chirac. Ora é nessa mesma França que Sarkozy está a consumar uma mudança estratégica. Com a saga da expulsão dos ciganos, em vez de propor uma alternativa de oferta política, comprou o caderno de encargos da Frente Nacional, a pensar na reeleição. É caso para dormirmos descansados? Não. A Extrema-Direita, assumida ou disfarçada, veio para ficar. Perigoso é fazer de conta que não existe.
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