Ana Benavente acusa liderança do PS de neoliberalismo e autoritarismo
Ex-secretária de Estado socialista diz que Sócrates adoptou políticas neoliberais, abandonando a matriz ideológica socialista, substituindo de tal modo a direita que esta ficou 'encostada às cordas'.
Artigo | 7 Fevereiro, 2011 - 13:18
Ana Benavente: Sócrates “tornou-se autocrata, distribuindo lugares e privilégios, ultrapassando até o “centralismo democrático” de Lénine que tanto criticámos.” FOTO HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
Numa entrevista à revista Revista Lusófona de Educação, a ex-deputada socialista Ana Benavente, secretária de Estado da Educação de António Guterres (1995-2001), acusa o Partido Socialista de aplicar políticas neoliberais e a sua liderança de ser autoritária. “Fazer do capital financeiro o dono e árbitro do desenvolvimento económico é uma capitulação face ao neo-liberalismo que não é digna de um partido socialista”, acusa.
Para Ana Benavente, a liderança de José Sócrates “tornou-se autocrata, distribuindo lugares e privilégios, ultrapassando até o “centralismo democrático” de Lénine que tanto criticámos.”
Além disso, acusa o PS de Sócrates de ter assumido políticas de direita, descurando a justiça social e a sua matriz ideológica, “dirigindo a 'máquina' de modo autoritário e sem diálogo, substituindo de tal modo a direita que esta ficou 'encostada às cordas'”. Assim, diz Ana Benavente, “o PS desacreditou-se e deixou de ser uma alternativa ao centro e à direita”.
A ex-deputada enumera assim os sete pecados capitais da actual liderança de Sócrates:
1. Adopção de políticas neo-liberais e, portanto, abandono da matriz ideológica socialista
2. Autoritarismo interno e ausência de debate, empobrecendo o papel do PS no país
3. Imposição das medidas governativas como inevitáveis e sem alternativa, o que traduz dependências nacionais e internacionais não assumidas nem clarificadas para o presente e o futuro
4. Marketing político banal e constante, de par com uma superficialidade nas bandeiras de modernização da sociedade portuguesa
5. Falta de ética democrática e republicana na vida pública e na governação
6. Sacrifício de políticas sociais construídas pelo próprio PS em fases anteriores
7. Falta de credibilidade, quer por incompetência quer por hipocrisia, dando o dito por não dito em demasiadas situações de pesadas consequências.
Para Ana Benavente, “um partido só pode assegurar um longo período de governação quando também utiliza a sua acção governativa para construir, manter e desenvolver a sua própria hegemonia cultural.” Ora “Sócrates não compreendeu esta simples verdade. Procurou assegurar e legitimar socialmente o seu Governo através da sua adaptação à hegemonia cultural do radicalismo de mercado.”
Outras passagens da entrevista:
“A tarefa do presente que devemos assumir com coragem é a resposta às questões: onde conduzem realmente os valores do socialismo democrático? Apontam para a mesma direcção do liberalismo económico na sua forma radical de mercado? Ou o PS ainda possui princípios e valores nos quais se pode basear uma alternativa?”
“Na minha opinião, o PS hipotecou o seu papel na sociedade portuguesa e deixou-nos sem perspectivas de um futuro melhor. Assumiu o papel que antes pertencia aos centristas do PSD, ocupou o seu espaço, e tornou o país mais pobre, política e socialmente.”
“O PS abdicou da defesa dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos. Considerou que bastava defender questões ditas “fracturantes” como é o caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo para manter uma imagem de esquerda. E foi buscar protagonistas de tais causas, independentes do PS, para as defender. Discordo em absoluto.”
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