quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A DIREITA, O P.S.E A POLITICA DE DESEEMPREGO

Direita ajuda o governo na política do desemprego”
Esta quarta-feira, numa sessão pública em Leiria, Francisco Louçã respondeu a questões sobre as razões da moção de censura que o Bloco apresentará em Março e denunciou que a resposta da direita “é para ajudar o governo na política do desemprego”.
Artigo | 24 Fevereiro, 2011 - 11:07

“A União Europeia é pior do que o FMI quando cobra juros mais altos à Irlanda e à Grécia do que ao próprio FMI”, disse Louçã. Foto de Paulete Matos
A sessão promovida pelo Bloco de Esquerda em Leiria funcionou como um parlamento aberto onde Francisco Louçã expôs a sua intervenção e depois respondeu a várias interpelações do público que colocou questões sobre a utilidade e as razões da moção de censura, mas também sobre a crise e o FMI e sobre as mobilizações sociais e sindicais.

Louçã começou por referir a “extraordinária” revolução árabe, sublinhando as suas origens sociais – a “revolta dos jovens desempregados” [referindo-se à Tunísia e ao Egipto] – e denunciando a hipocrisia dos países ocidentais, nomeadamente os principais da União Europeia (UE), que ajudaram a sustentar os regimes autoritários dando-lhes protecção política. Lembrando que os regimes tunisino e egípcio pertenciam à Internacional Socialista, da qual também o partido de José Sócrates faz parte, afirmou que a protecção dada a estes países se baseava numa garantia de controlo do petróleo e instrumentalização política dos países. “É por isto que a revolução árabe é tão importante, porque denuncia uma Europa que se preocupa mais com a indústria petrolífera do que com a liberdade dos povos”, disse Louçã.

Num segundo momento, Francisco Louçã falou concretamente sobre a moção de censura dizendo que esta é a terceira moção apresentada pelo Bloco e também a mais justificada de todas. Esta terceira moção, afirma Louçã, é contra “a economia cruel que afunda o país”, e responde “pelos 700 mil desempregados, pelos 2 milhões de precários perseguidos por esta economia, por um país que lhes retira vida”.“Nenhuma outra moção tinha sido atacada deste modo”, lembrou Louçã afirmando que “aqueles que arruínam o país querem que tudo fique na mesma”.

Já o governo, disse Louçã, “tem uma obsessão ideológica: tornar o despedimento mais barato e colocar cada trabalhador a pagar o seu próprio despedimento ou o do colega do lado, ou seja, resolver os problemas da economia portuguesa favorecendo o desemprego e baixando os salários”. Este é um modelo de inspiração liberal, sublinhou, “é o modelo da Thatcher e do Reagan, que só origina mais desemprego”.

O coordenador do Bloco de Esquerda considera que a resposta da direita à moção de censura do Bloco é para ajudar o governo na política do desemprego. “A direita quer agarrar o governo para este fazer o pior e desagregar a economia”, sustentou, referindo depois ironicamente a frase de Passos Coelho – “ainda não temos fome para ir ao pote”. “O pote somos nós, são os impostos, é economia, é o estado”, disse.

Louçã acentuou três factos que confirmam a necessidade da moção de censura e demonstram a “elevada degradação social” em que o país se encontra: as recentes estatísticas do desemprego; os resultados dos principais bancos em Portugal que demonstraram que estes pagaram uns juros irrisórios sobre 1500 milhões de euros de lucros e denunciou a “gigantesca tramóia do discurso sobre a distribuição dos sacrifícios“; o “entusiasmo” da direita com as propostas laborais do governo: o CDS quer prolongar os contratos a prazo até 6 anos, o PSD propõe que a Segurança Social – “que é dinheiro de todos os trabalhadores”, lembrou o dirigente bloquista – pague uma parte do salário para que o valor do trabalho seja menor, permitindo aos patrões contratar pagando abaixo do salário mínimo.

“Nós não estamos condenados”

O deputado acusa o bloco central, a alternância entre PS e PSD, de ser responsável por esta economia do medo e do desespero: “um como o outro são promotores das políticas do desemprego e entusiasmam-se com as políticas de privatizações”.

É por isto, diz, que a “ a esquerda precisa de ter a capacidade de apresentar uma alternativa”. “Nós não estamos condenados”, afirma Francisco Louçã, e acrescenta que “nós precisamos da força de uma alternativa que ponha na ordem o sistema financeiro, cobre os impostos justos a todos, que crie a sustentação para os serviços públicos e Segurança Social e que nessa base redistribua na população aquilo que é de todos”.

O Bloco quer democracia e justiça na economia e esse é o sentido da moção de censura, reiterou Louçã, afirmando que “não podemos cruzar os braços, nem ficar à espera que aconteça”.

Nos próximos meses corre-se o risco da degradação da economia portuguesa, advertiu, referindo-se à especulação financeira mas também aos planos da UE. “A União Europeia é pior do que o FMI quando cobra juros mais altos à Irlanda e à Grécia do que ao próprio FMI”, disse.

A UE e o FMI têm a mesma receita e só conhecem uma palavra: salário, diz Louçã acusando-os de procurarem fazer os ajustamentos sempre a partir do valor do trabalho, seja a partir do aumento do custo dos transportes, do aumento da saúde, do IVA, do congelamento das pensões, “é sempre ir buscar ao salário”.

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