quinta-feira, 19 de maio de 2011

DILEMA DE FERRO RODRIGUES

Os dilemas de Ferro Rodrigues
Ferro Rodrigues zurziu na “velha direita”, acusando-a de só representar “interesses” e de ser sinónimo de “mentira”. Como concilia o candidato semelhantes acusações com a vontade, por si já expressa, de um “amplo governo” de coligação Bloco-central ou até mais à direita?

opiniao | 18 Maio, 2011 - 00:07 | Por João Teixeira Lopes
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Ferro Rodrigues zurziu na “velha direita”, acusando-a de só representar “interesses” e de ser sinónimo de “mentira”. Como concilia o candidato semelhantes acusações com a vontade, por si já expressa, de um “amplo governo” de coligação Bloco-central ou até mais à direita?

Eduardo Ferro Rodrigues, antigo secretário-geral do PS e actual cabeça de lista deste partido pelo círculo de Lisboa, é habitualmente apresentado como representante da”ala esquerda” do PS. Muitos comentadores referem mesmo que a sua escolha como candidato nestas eleições tem por objectivo captar eleitores do Bloco de Esquerda.

Ora, em recente actividade de pré-campanha, Ferro Rodrigues zurziu na “velha direita”, acusando-a de só representar “interesses” e de ser sinónimo de “mentira”. Um observador mais atento encontrará decerto um mar de contradições com o que tem sido o discurso e a prática liberal do PS, em clara abdicação face às orientações ideológicas dominantes na Europa e sob as quais se albergam, igualmente, PSD e CDS. Como concilia o candidato semelhantes acusações com a vontade, por si já expressa, de um “amplo governo” de coligação Bloco-central ou até mais à direita? Pretenderá conviver de mãos dadas com os “interesses” e a “mentira”? Dito por outras palavras, se a tal Direita se orienta pelos ditames particulares dos negócios e do capital financeiro (“os interesses”); se, para cúmulo, não tem suporte ético (“a mentira”), como aguenta Ferro Rodrigues esta pirueta?

Na verdade, Ferro Rodrigues vai ser eleito para votar as privatizações (incluindo uma parte da Caixa Geral de Depósitos), os cortes nas pensões, o choque salarial, o embaratecimento dos despedimentos, a redução do prazo e do montante do subsídio de desemprego, o desmantelamento de vectores essenciais do Serviço Nacional de Saúde: logo, ele, que se afirma como pioneiro na implementação de novas políticas sociais.

Com esta “ala esquerda”, a Direita bate palmas. E senta-se tranquilamente no Governo. Servindo os seus interesses e usando a mentira.

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