Olha a velha vai cair!
O choque-tecnológico de Sócrates começa a dar resultado. Portugal entrou finalmente na galáxia “You Tube” e deixou o Gutenberg sete palmos abaixo de terra. A banda larga mostrou a um Portugal meio Gin Atónito o muito saxónico problema do “bullying”, que não é uma raça de cão perigoso, mas sim uma prática de cachorros perigosos.Já tínhamos aderido ao “road rage” e ao “carjacking” e agora temos “bullyng”. Só nos falta um bocadinho mais de PIB para sermos um país à séria.
Uns putos que vão dar uma espécie de Michael Moore de Paranhos fizeram um documentário nu e cru sobre um caso de bullying numa escola do Porto, ironicamente chamada Carolina Michaelis, filóloga de língua portuguesa e a primeira mulher a leccionar numa universidade portuguesa. Coitada da senhora se soubesse que a sua posteridade seria ressuscitada com um caso de “bullying”.
Uma professora disputava um telemóvel com uma aluna cavalona. Não se sabe bem qual o operador, nem se era um 3G da Nokia, mas deu para ver que o telemóvel era importante para a menina comunicar a hora de saída ao seu namorado-zundap-mafioso-mais-velho, jogador do Salgueiros. Afinal tratava-se de um arranjo de amor e a ansiedade para meia-hora a lambusar linguados, uns apalpões e quem sabe algo mais, faria qualquer eunuco ficar transtornado, quanto mais uma adolescente com problemas de acne e falta dele.
Esse atenuante, ou aliás essa “idiossincracia pedagógica” não foi entendida pela professora, que lutou pela preservação da sua autoridade com um denodo de polícia militar. Fez mal, estava nitidamente impreparada para lidar com os problemas de cio na adolescência. Ninguém se aproxima de uma jovem fêmea tigre no período do acasalamento, porque raio se há-de fazer isso com uma adolescente esfomeada.
Assim dando o devido desconto à menina-cavalona e à dependência sexual em relação ao telemóvel (o SMS é hoje o meio privilegiado para a cantada, o piropo e a conversa de cama) e dando à professora nota positiva pela sua obstinação e coragem física (à atenção da ministra, avaliar os professores pelas competências no wrestling), importa guardar a “gema” deste caso que salvou a Páscoa dos telejornais. E, na minha opinião, a “gema” do caso é o facto de a partir de agora a coeva mas muito ufana sociedade de informação nacional ter oficialmente entrado na era do “You Tube”, do cidadão jornalista, da demissão total do jornalista como mediador.
Esta é a primeira vez na História de Portugal que um vídeo do You Tube tem um impacto político e social, que cria consternação pública, que agita consciências, que motiva o debate, e que nos faz conhecer pedo-psiquiatras até aqui prudentemente remetidos à mais profunda obscuridade.
Até aqui a violência nas escolas era um problema quase mítico, feito de relatos vagos, artigos de estagiários choramingas meio apagadas a três colunas no “24 Horas”, ou discutido no Congresso de Vilar de Perdizes. A violência na escola era até aqui uma espécie de mito urbano, de ovnitologia, de exagero intangível, a não ser para professores que já tivessem experenciado levar no trombil.
Mas graças a dois intrépidos repórteres de escola a lenda tornou-se realidade. Com uma ferocidade e um realismo que não admite demissões nem contextualizações pedagógicas, os rapazolas mostraram ao país inteiro que o problema da violência na escola existe mesmo. Existe porque apareceu no “You Tube”, e nos jornais e na TV. É o poder da imagem. Em Portugal, as coisas só existem se forem mostradas pela Clara de Sousa e pelo Rodrigues dos Santos, tudo o resto é treta.
Era bom que se desse formação em recolha de imagem com telemóvel a todos os portugueses para poderem denunciar e expor um vereador a receber uma malinha de notas do construtor, para mostrar o marido a dar porrada na mulher, para mostrar o jantar de uma família na miséria, para mostrar toda a merda que por aí anda, mas que não nos incomoda, porque não a vemos, como São Tomé.
Nesse sentido, os meus heróis desta história são os putos Michael Moore de Paranhos que não perderam o sangue-frio, mantiveram o distanciamento, tiveram preocupações de enquadramento e de estabilização da imagem e, como “piéce de resistance” ainda nos ofereceram uma locução digna de Eládio Clímaco, com aquele apontamento final: “Olha, a velha vai cair. “
Naquela turma de merdosos, há pelo menos dois bons documentaristas estilo Gel – reality chocks. À atenção do Pedro Boucherie para a SIC Radical.
Nem tudo está perdido, afinal, a esperança é, como dizia Céline: “Esperar que um dia a merda cheire bem”.
Rui Pelejão
Joviana
Oxalá que o ano de 2008 traga, a todos os meus amigos, a concretização dos seus sonhos, no todo ou em parte...não sejam mt ambiciosos.
Leiam:
coluna OPINIAO
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