sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

OS SACRIFICIOS DE MEXIA

Os sacrifícios de Mexia

Os sacrifícios de Mexia
António Mexia sempre defendeu menos Estado e mais sacrifícios para
garantir o futuro do País. Estado nunca lhe faltou. Sacrifícios é coisa
que não parece conhecer.
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)


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"Terão que se assumir sacrifícios no curto prazo por forma a obter
vantagens no médio prazo, devendo esta geração evitar carregar
inutilmente as próximas." São estas as palavras de António Mexia que se
podem ler no site dos liberais caseiros do Compromisso Portugal. Só que,
como de costume, quando Mexia diz que se terão de assumir sacrifícios
não está a falar dele próprio.



Soubemos esta semana que Mexia recebe 3,3 milhões por ano. O mesmo que
500 trabalhadores com o salários mínimo nacional. Aquele salário que,
por ser aumentado em vinte euros, iria, garantiram as associações
patronais, rebentar com a nossa competitividade. Recordo o que aqui já
escrevi: os nossos gestores recebem em média 32 vezes mais do que os
trabalhadores mais mal pagos das suas empresas. Na Alemanha a média é 10
vezes mais. Querem mesmo falar dos salários e da competitividade das
nossas empresas?



Dirão: a EDP é uma empresa privada. Não temos nada a ver com isso.
Acontece que é uma empresa privada que foi pública e onde o Estado
continua a ser o maior accionista. E que vive em regime de monopólio. O
ordenado de Mexia é pago pelos consumidores que não podem decidir mudar
de empresa. E, recorde-se, o preço da electricidade doméstica em
Portugal é, em termos absolutos, superior ao da média comunitária.

Na factura lá estão o salário e prémios de António Mexia.



E acontece que o currículo de António Mexia, apesar de se tratar de um
convicto liberal sempre a pedir menos Estado, é bastante esclarecedor:
foi Adjunto do Secretário de Estado do Comércio Externo, Vice-Presidente
do Conselho de Administração do ICEP, Presidente dos Conselhos de
Administração da Gás de Portugal e da Transgás, Vice-Presidente da Galp
Energia, Presidente Executivo da Galp Energia, Presidente dos Conselhos
de Administração da Petrogal, Ministro das Obras Públicas, Transportes e
Comunicações, Presidente do Conselho Geral da Ambelis e representante do
Governo Português junto da União Europeia no Grupo de trabalho para o
desenvolvimento das redes transeuropeias. Agora está na EDP.



Tirando a sua vida académica e uma passagem pelo Banco Espírito Santo,
trabalhou sempre, seguramente contrariado, para o Estado ou para
empresas participadas pelo Estado. E quase sempre por escolha política.



Este homem, que fez a sua vida profissional à boleia da política e do
Estado, quer menos Estado. Faz-se pagar como os 200 que mais recebem nos
EUA e exige sacrifícios a bem das próximas gerações.

E foi ele mesmo, sempre lesto a gritar pelo mérito, que contratou, se
bem se recordam, Pedro Santana Lopes (seu ex-primeiro-ministro) para
assessor jurídico da EDP. Porque os amigos são para as ocasiões.

E fez este senhor parte desse patusco encontro de gestores que exigiu,
em 2006, o congelamento salarial dos funcionários públicos. Sacrifícios,
já se sabe, têm ser feitos

São estes homens, transformados pela imprensa em oráculos da Nação, que
nos dão lições de competitividade, meritocracia e estoicismo para vencer
as adversidades. Falam de cátedra. Mas não sabem do que falam.

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