segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

TUNISIA

Notas sobre a Revolução Tunisina
por Dyab Abou Jahjah [*]
Desde o primeiro dia estava claro que esta revolução não era só acerca do pão, era também contra a ditadura e a corrupção. A revolução foi apoiada por todos os segmentos da sociedade. Pobres, classe média e mesmo a classe média alta. Especialmente a classe média mostrou as suas unhas nos últimos dias em Túnis. Muitos amigos meus que viviam ali e que são estudantes universitários ou empregados em boas posições estiveram nas ruas, também a apanhar gás lacrimogéneo e balas. A juventude desempenhou um papel importante em tudo isto e os telemóveis combinados com o Facebook conectados através de serviços proxy foram os media da revolução. A central sindical ( UGT ) desempenhou o papel do regulador do momento e indicador político. Ficou claro que enquanto a central sindical mantinha-se a declarar greves a batalha avançava e que era o sinal para o povo ir às ruas. Mas não podemos dizer que a central sindical liderou a revolução; ela ao invés sincronizou-se com ela, especialmente nos últimos dois dias cruciais.

Ao nível político não havia nenhum partido ou corrente que por si mesmo desempenhasse um papel principal. A oposição tradicional que está principalmente no exílio tentou coordenar e pensou mesmo num governo no exílio. Mas o momento da revolução era demasiado rápido para que tais planos se materializassem. O povo não tinham nenhum líder excepto a si próprio. Isto entretanto colocou para a revolução o problema de como organizar a transição do poder: quem o tomará. Só havia três opções: governo no exílio (mas isso seria só a longo prazo); golpe militar; ou alguma figura institucional do regime a ocupá-lo. Agora parece que as duas últimas opções ainda estão abertas. Ghanoushi, o primeiro-ministro, é de dentro do establishment, mas é muito provável que venha a estar no poder por pouco dias, alguns acreditam que por poucas horas. Rumores acerca de o general Ammar tomar o comando e designar o porta-voz da casa El Mbazaa como curador até que sejam organizadas eleições em 60 dias estão agora a circular dentro das fileiras do Exército e da cena política.

Quanto às possíveis tentativas do regime de regenerar-se, isto talvez possa fazer-se através da criação de desordem e caos nas ruas. Relatos de violência, saqueio e incêndios são amplamente difundidos neste momento. Mas é muito improvável que conduzam a um sentimento contra-revolucionário, porque o povo percebe que são os aspectos negativos de qualquer revolução, não há parto sem sofrimento...

Quanto às repercussões sobre o mundo árabe e para além dele... Elas são espantosas. Todos os ditadores árabes agora são sacudidos nos seus tronos. Especialmente nos países do Magreb, mas também Mubarak terá uma noite de insónia. Os povos árabes agora viram em sabem com certeza o que um povo pode fazer. Viram um outro povo árabe deitar abaixo o mais brutal dos ditadores em menos de um mês. Tudo o que foi necessário foi a unidade e a determinação para ir até o fim. Isto certamente levará à revitalização de sonhos revolucionários entre as classes árabes oprimidas (classe média e massas) e anunciará a aurora da democracia. Os americanos e os sionistas – e também a França – hoje estão nervosos: o seu melhor amigo na área foi chutado... E o povo está em vias de governar-se na Tunísia com a sua própria agenda com todos os elementos anti-imperialistas e anti-sionistas da mesma. Uma Tunísia livre e democrática não será apenas um modelo de democracia para todos os árabes, ela será também um abrigo seguro para forças revolucionárias e um lugar de apoio à resistência contra Israel e os EUA. A aliança internacional contra a hegemonia do império terá um novo membro.

Agora finalmente, a Tunísia é um belo país que tem um povo altamente educado, muito crítico e muito interventivo. Os tunisinos são tanto Magreb como Mashrek, eles parecem como todos os árabes e falam como todos os árabes, podem formar o núcleo do povo árabe para a libertação. A Tunísia pode desempenhar o papel que o Egipto já não é capaz de desempenhar. Na era da democracia e da liberdade, a Tunísia deve exportar a sua revolução, mas, antes de tudo, a Tunísia deve consolidá-la e levá-la ao seu final feliz pela construção de um sistema baseado na liberdade, igualdade, diversidade e cidadania. Um real Estado legal e um modelo a seguir. Acredito que os tunisinos estão entre todos os árabes para esta tarefa. Observaremos e aprenderemos.
[*] Fundador e antigo presidente da Arab European League .
Este artigo foi publicado anteriormente no seu blog Abou Jahjah Comments.

O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2011/jahjah150111.html

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