Subject: Banco Português de Núpcias
Opinião
Banco Português de Núpcias
O divórcio de Oliveira e Costa foi o oposto do «golpe do baú»: o
objectivo não é casar para ficar rico, é divorciar-se para enriquecer
o cônjuge
É impressão minha ou o caso BPN fica mais enternecedor a cada dia que
passa? Tem sido comovente desde o início, mas estes últimos episódios
foram mais emocionantes que o fim de Casablanca. À semelhança do que
costuma acontecer nas histórias tristes, esta também tem um inválido,
como o Tiny Tim, do Dickens. O caso BPN tem, aliás, vários inválidos,
e curiosamente são todos ceguinhos: o Banco de Portugal não viu que
havia falcatruas, os administradores do banco não repararam que o
presidente praticava um tipo de gestão que a lei, ao que parece,
proíbe…
E agora estamos no ponto em que entra em cena a injustiça: Oliveira e
Costa foi acusado de burla agravada, falsificação de documentos,
fraude fiscal e branqueamento de capitais. Quem o acusa de
enriquecimento ilícito só pode desconhecer o seu desarmante altruísmo.
Segundo o Correio da Manhã, em Março deste ano, Oliveira e Costa
divorciou-se da mulher com quem era casado havia 42 anos, e passou os
bens para o nome da senhora. Muito embora o divórcio se tenha
realizado por mútuo consentimento, não deixa de ser admirável que um
homem premeie a mulher de forma tão generosa na hora da separação.
Trata-se do rigoroso oposto do «golpe do baú»: o objectivo não é casar
para ficar rico, é divorciar-se para enriquecer o cônjuge. Que um
homem tão desprendido dos bens materiais seja acusado daqueles crimes
é simplesmente revoltante.
E é em alturas como esta que damos por nós a pensar que, quando os
homossexuais tentam fazer pouco da nobre instituição do matrimónio,
reivindicando o direito a casar, esquecem que o casamento não é uma
brincadeira, nem um contrato sem significado que possa ser alargado às
pessoas do mesmo sexo. O casamento é uma união sagrada entre um homem
e uma mulher que partilham um projecto de vida comum, e essa união
persistirá eternamente a menos que a polícia queira engavetar um dos
cônjuges ao fim de 42 anos e levar-lhe a massa que ele acumulou
indevidamente. Os homossexuais que não queiram vir corromper o
instituto com que o Estado premeia as pessoas que formam o núcleo
essencial da sociedade. Era o que faltava, vir essa gente conspurcar
uma coisa tão bonita.
Mais do que fazer história no plano jurídico, na medida em que, pela
primeira vez, foi preso um banqueiro em Portugal, o caso BPN pode
fazer história no plano social: além do casamento por interesse,
aparentemente acaba de se instituir o divórcio por interesse. Casar
com um homem rico é um sonho do passado.
A ambição moderna é divorciar-se de um banqueiro. Sendo menos
aviltante, consegue ser mais lucrativo.
________________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário