quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A GRANDE EVASÃO

Genial, pela visão abrangente e profunda e pela economia de palavras
, nos tempos que correm, uma variável a valorizar, sim, porque os
profes não têm tempo a perder...
Em jeito de apêndice, só uma pergunta: e quem fica na escola? Serão,
na sua maior parte, os "novinhos" os que,miseravelmente/indignamente,
a tudo se sujeitam,aqueles que ganham à hora, com contratos precários
em terrreno propício a todas as lambotices e compadrios vergonhosos. É
este o PS que nós temos? É este o país de merda que todos merecemos?
Será que já batemos no fundo? O que é que se aprende/ensina nas
escolas? O ME ,com pano de fundo socratino, conseguiu de facto acabar
com o que já estava de algum modo fragilizado. Faltará providenciar o
funeral e não será certamente necessário contratar carpideiras..

Um belo artigo de Pina
A Grande Evasão

'Quem pode, foge. Muitos sujeitam-se a perder 40% do vencimento. Fogem
para a liberdade. Deixam para trás a loucura e o inferno em que se
transformaram as escolas. Em algumas escolas, os conselhos executivos
ficaram reduzidos a uma pessoa. Há escolas em que se reformaram
antecipadamente o PCE e o vice-presidente. Outras em que já não há
docentes para leccionar nos CEFs. Nos grupos de recrutamento de
Educação Tecnológica, a debandada tem sido geral, havendo já enormes
dificuldades em conseguir substitutos nas cíclicas. O mesmo acontece
com o grupo de recrutamento de Contabilidade e Economia. Há centenas
de professores de Contabilidade e de Economia que optaram por reformas
antecipadas, com penalizações de 40% porque preferem ir trabalhar como
profissionais liberais ou em empresas de consultadoria. Só não sai
quem não pode. Ou porque não consegue suportar os cortes no vencimento
ou porque não tem a idade mínima exigida. Conheço pessoalmente dois
professores do ensino secundário, com doutoramento, que optaram pela
reforma antecipada com penalizações de 30% e 35%. Um deles, com 53
anos de idade e 33 anos de serviço, no 10º escalão, saiu com uma
reforma de 1500 euros. O outro, com 58 anos de idade e 35 anos de
serviço saiu com 1900 euros. E por que razão saíram? Não aguentam mais
a humilhação de serem avaliados por colegas mais novos e com menos
habilitações académicas. Não aguentam a quantidade de papelada,
reuniões e burocracia. Não conseguem dispor de tempo para ensinar.
Fogem porque não aceitam o novo paradigma de escola e professor e não
aceitam ser prestadores de cuidados sociais e funcionários
administrativos.
'Se não ficasse na história da educação em Portugal como autora do
lamentável 'pastiche' de Woody Allen 'Para acabar de vez com o
ensino', a actual ministra teria lugar garantido aí e no Guinness por
ter causado a maior debandada de que há memória de professores das
escolas portuguesas. Segundo o JN de ontem, centenas de professores
estão a pedir todos os meses a passagem à reforma, mesmo com enormes
penalizações salariais, e esse número tem vindo a mais que duplicar de
ano para ano.
Os professores falam de 'desmotivação', de 'frustração', de
'saturação', de 'desconsideração cada vez maior relativamente à
profissão', de 'se sentirem a mais' em escolas de cujo léxico
desapareceram, como do próprio Estatuto da Carreira Docente, palavras
como ensinar e aprender. Algo, convenhamos, um pouco diferente da
'escola de sucesso', do 'passa agora de ano e paga depois', dos
milagres estatísticos e dos passarinhos a chilrear sobre que discorrem
a ministra e os secretários de Estado sr. Feliz e sr. Contente. Que
futuro é possível esperar de uma escola (e de um país) onde os
professores se sentem a mais?'

Manuel António Pina









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