prisão do banqueiro
Diziam os jornais este fim-de-semana que fora preso o primeiro
banqueiro em Portugal. Não é verdade. É o segundo. A primeira foi a
banqueira do povo, a D. Branca, que lançou na rua manifestações de
milhares de pessoas, atónicas, sem perceberem como um sistema
financeiro tão rentável, tão feito ao jeito dos pobrezinhos,
desaparecia num ápice. Depois da prisão da banqueira dos pobres,
chegou a hora do banqueiro dos ricos. Embora não se saiba a extensão
dos danos causados pela gestão do BPN, a verdade é que os ricos não
saíram à rua em manifestações de pesar e de protesto. Calaram-se. E o
Governo com pena dos ricos nacionalizou o BPN e agora vamos nós pagar
as dezenas de milhares de euros das moedas do euro, das colecções de
pintura, das negociatas do banco insular. Mas o Governo tem razão, os
nossos ricos metem dó. A maioria deles foi forjada nos meandros mais
escuros da política, cresceu à custa de um subsídio e do financiamento
público, sem nunca ter produzido um cêntimo para a riqueza do País. E
agora que o banqueiro dos ricos foi preso, ficam quietos, escondidos,
à espera da piedade do Estado.
Aquilo que se está a passar com o BPN, já se sabe, que nada tem a ver
com a crise financeira, coloca os verdadeiros banqueiros portugueses,
assim como o resto do Mundo, nos limites da aflição. O BPN é um caso
de polícia, que, pelos vistos, há muito deveria ter sido parado.
Admira, ou se calhar não admira nada, que as autoridades responsáveis
pela perseguição às falcatruas geradas no interior deste banco tenham
sido tão preguiçosas a reagir quando se tornam verdadeiramente
inquisitoriais quando se trata de um desgraçado qualquer que se
atrasou no pagamento do IVA ou de qualquer outro imposto. Não há
explicações que justifiquem a placidez do Banco de Portugal na
fiscalização. Nem do Fisco, nem de outras autoridades de controlo. Os
próprios especialistas confirmam que, se não fosse a grave crise
financeira, a marosca até tinha passado despercebida.
Qual é a moral desta história? Estou em crer que se vai ficar por uma
ou duas figuras a quem vão ser pedidas responsabilidades públicas, que
vão passar uns meses a dar à língua sobre o caso, que se realizarão
meia dúzia de debates sobre os factos e depois, devagarinho, como se
tratasse de uma limpeza a seco, a coisa vai morrendo e nós descuidados
e desatentos lá pagaremos as centenas de milhões que os pobres dos
nossos ricos acrescentaram às suas miseráveis fortunas. É o nosso
fado. Comer, discutir e calar. E pagar.
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