quinta-feira, 2 de julho de 2009

LOPES DA MOTA

Lopes da Mota, o impoluto filho de uma impoluta justiça

Há coincidências tramadas. Então não é que o procurador Lopes da Mota, o tal a quem os procuradores titulares pelo processo Freeport acusam de pressões, para além de ex-colega de Governo de Sócrates, ter sido igualmente suspeito de ter fornecido informações a Fátima Felgueiras sobre a investigação que corria contra si!?
Antes de rumar a Bruxelas, onde é agora presidente (meu Deus) do Eurojust (organismo europeu encarregado de zelar pela colaboração judiciária entre as autoridades dos diversos países), o digno procurador esteve colocado no Tribunal de Felgueiras.
Na altura, o dito cujo era secretário-geral da PGR e apontado como o possível sucessor de Cunha Rodrigues. O seu suposto envolvimento no processo de Fátima Felgueiras acabou por o fragilizar, ao ponto de ter perdido a vantagem para Souto Moura na nomeação para Procurador-Geral da República. Olhem do que escapámos, então é que era líquido que se arquivariam todos os processos que envolvessem a camarilha e ainda lá estaria.
É claro que não perderam tempo, havia que colocar o homem certo no lugar certo, é que, do mal o menos, assim sempre se salvaguardava a corrupção à portuguesa, em particular os da sua família política.
O mais curioso, é que o inquérito, aberto pelo procurador-geral Souto de Moura (o tal que fingia ser um totó, para levar o barco a bom porto), foi arquivado por falta de qualquer tipo de provas nesse sentido. É que para determinados indivíduos, ou personalidades, as escutas telefónicas nunca provam nada, conforme podem atestar no Anexo.
Passo a transcrever o artigo em que Joaquim Vieira (que será feito dele?) denuncia, sem referir quem, no encerrado (pois claro, porque era incómodo) suplemento "Grande Reportagem", o comportamento de um ilustre da nossa "justiça", que eu, com o meu reconhecido mau feitio, jurei não esquecer e digitalizei, esperando ainda um dia vir a pedir contas. Mas aqui vai:
''Mãos sujas na justiça
Aos olhos dos cidadãos, há dois pesos e duas medidas na prática judicial
O país nem reagiu à notícia de uma semana, anestesiado pelos sucessivos casos que têm abalado a confiança dos portugueses na Justiça. Concluído o inquérito ao suposto favorecimento de Fátima Felgueiras por um juiz do Supremo Tribunal Administrativo, chegou-se a um relatório com quase uma centena de páginas de transcrições de escutas telefónicas entre a foragida presidente da Câmara Municipal de Felgueiras e o magistrado, onde este transmite instruções à autarca para fugir à acção judicial que sobre ela impede por suspeitas de corrupção enquanto responsável máxima do executivo concelhio. Mais: o insigne jurista promete-lhe interceder junto de outros magistrados para os pressionar a abafar o processo. Quanto à acção movida a Felgueiras com vista à perda do mandato em consequência do processo de corrupção, o mesmo juiz pede-lhe que ela o avise do envio dos autos para o Tribunal Administrativo do Porto, para que ele accione logo influências junto do Ministério Público (e a verdade é que a autarca foi aí absolvida, com base no decisivo depoimento do magistrado em audiência, como sua testemunha de defesa). Vem a saber-se ainda que, já como vereadora em Felgueiras, 10 anos antes, a autarca vira ser arquivado semelhante processo contra si, também no mesmo tribunal portuense e aparentemente após diligências do mesmo magistrado. Como se tudo isto não bastasse, apurou-se agora que, no espaço de uma hora antes de a autarca fugir para o Brasil, há ano e meio, aparentando saber por antecipação que ia ser detida nesse dia, houve dez chamadas telefónicas do Tribunal Tributário do Porto, onde o magistrado disporia de gabinete, supostamente para Felgueiras (e mais uma para o seu ex-marido). Note-se que não estamos a falar de um magistrado qualquer, mas de um juiz-conselheiro. Em que outros processos terá sujado as mãos, ao longo de uma carreira que o levou ao topo? São situações como esta que levam a concluir que algo está podre no reino da Justiça e que, aos olhos dos portugueses, existe definitivamente uma prática judicial (implacável) para os cidadãos anónimos e outra (com inúmeras escapatórias) para quem pode dispor de influência social.
In Grande Reportagem de 9 de Outubro de2004 - OS PASSOS EM VOLTA de Joaquim Vieira''

Não fosse o facto de ele ter sido ilibado eu julgava que o indivíduo não passava de um canalha, sem escrúpulos de espécie alguma, mas como o foi, tenho que reconhecer estar enganado, e que o "traste" é honestíssimo, incapaz, ou de tomar qualquer atitude menos honesta, de pressionar seja quem for.
A medo vão saindo a público, vamos assistir a campanhas eleitorais que serão verdadeiros momentos festivos, espectáculos de som luz e cor. Tudo menos o que interessa: compromissos políticos. Para isso, já aprovaram leis para aumentar os donativos em dinheiro vivo, ou seja, sem se saber a origem, pois claro.
Votar em quem? Votar para quê? Se são sempre os mesmos!!
Votar para legitimar um governo, uma AR, uma classe de governantes, de deputados, sem classe, salvo as raras excepções, como se verificou na aprovação da lei do financiamento dos partidos?
Para legitimar suspeitos de corrupção?
Para legitimar os "jobs for the boys"?



De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.
(Ruy Barbosa)

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