sexta-feira, 31 de julho de 2009

PERGUNTA INOCENTE

tenho umas perguntas a sugerir à nossa prestimosa comunicação
social, que anda sempre com falta de assuntos e é muito distraída,
sobretudo nesta altura em que o Sr PR resolveu ter assomos de ética
pública :

1ª - A quem é que Cavaco e a filha compraram, em 2001, 254 mil acções
da SLN, grupo detentor do BPN?

O PR disse há tempos, em comunicado, que nunca tinha comprado nada ao
BPN, mas «esqueceu-se» de mencionar a SLN, ou seja, o grupo que
detinha o Banco.

Como as acções da SLN não eram transaccionadas na bolsa, a quem é que
Cavaco as comprou?

À própria SLN?

A algum accionista?

Qual accionista? (Sobre este ponto, ver adiante.)

2 ª- Outra pergunta que não me sai da cachimónia:

Como é que foi fixado o preço de 1 euro por acção?

Atiraram moeda ao ar?

Consultaram a bruxa?

Recorreram a alguma firma especializada?

Curiosamente, a transacção foi feita quando o BPN já cheirava a
esturro, quando o Banco de Portugal já «andava em cima do BPN», ao
ponto de Dias Loureiro (amigo dilecto de Cavaco e presidente do
Congresso do PSD), ter ido, aliás desaconselhado por Oliveira e Costa,
reclamar junto de António Marta, como este próprio afirmou e Oliveira
e Costa confirmou.

3ª - Outra pergunta: Cavaco pagou?

E se pagou, fê-lo por transferência bancária, por cheque ou em cash? É
importante saber se há rasto disso.

Passaram dois anos.

Em carta de 2003 à SLN, Cavaco alegadamente «ordenou» a venda das suas
acções, no que foi imitado pela filha. Da venda resultaram 72 mil
contos de mais valias para ambos. Presumo que essas mais valias foram
atempadamente declaradas ao fisco e que os respectivos impostos foram
pagos. Tomo isso como certo, nem seria de esperar outra coisa.

Uma coisa me faz aqui comichão nas meninges. Cavaco não podia
«ordenar» a venda das acções (como disse atrás, não transaccionáveis
na bolsa), mas apenas dizer que lhe apetecia vendê-las, se calhasse
aparecer algum comprador para elas. A liquidez dessas «poupanças» de
Cavaco era, com efeito, praticamente nula. Mas não é que o comprador
apareceu prontamente, milagrosamente, disposto a pagar 1 euro e 40
cêntimos de mais valia por cada acção detida pela família Cavaco,
quando as acções nem cotação tinham no mercado.

E quem foi o benemérito comprador, quem foi?

Com muito gosto esclareço, foi uma empresa chamada SLN Valor, o maior
accionista da SLN.

Cito o Expresso online:

«Cavaco Silva e a filha deram ordem de venda das suas acções, em
cartas separadas endereçadas ao então presidente da administração da
SLN, José Oliveira Costa. Este determinou que as 255.018 acções
detidas por ambos fossem vendidas à SLN Valor, a maior accionista da
SLN, na qual participam os maiores accionistas individuais desta
empresa, entre os quais o próprio Oliveira Costa.»

Ou seja, Oliveira e Costa praticamente ofereceu de mão beijada 72 mil
contos de mais-valias à família Cavaco. E se foi Oliveira e Costa
também a fixar o preço inicial de compra por Cavaco, então a coisa é
perfeitamente clara.

Que terá acontecido entre 2001 e 2003 para as acções de uma empresa
que andava a ser importunada pelo Banco de Portugal terem «valorizado»
40 %?

Falta, neste ponto, esclarecer várias coisas, a primeira das quais já
vem de trás:

1. a quem comprou Cavaco e a filha as acções?

2. terá sido à própria SLN Valor, que depois as recomprou?

3. porque decidiu Cavaco vendê-las? Não tendo elas cotação no mercado,
Cavaco não podia a priori esperar realizar mais-valias.

4. terá tido algum palpite, vindo do interior do universo SLN, só
amigos e correligionários, para que vendesse, antes que a coisa fosse
por água abaixo?

5. terá sido cheiro a esturro no nariz de Cavaco? Isso é que era bom saber!

6. porque quis a SLN Valor (re)comprar aquelas acções? Tinha poucas?

7. como fixou a SLN valor o preço de compra, com uma taxa de lucro
bruto para o vendedor de 40% em dois anos, a lembrar as taxas
praticadas pela banqueira do povo D. Branca?

Por hoje não tenho mais sugestões de perguntas à comunicação social.

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