Como muita gente não sabe, há outro 5 de Outubro na História de Portugal, talvez mais digno de comemoração do que o de 1910. É o 5 de Outubro de 1143, uma das datas possíveis para a fundação do país. Foi nesse dia que Afonso VII de Leão e Castela assinou com Afonso Henriques, em Zamora, um acordo em que pela primeira vez o tratou como rei de Portugal e não como mero vassalo feudal. Para pôr a questão em termos hoje compreensíveis, seria como um império reconhecer a independência de uma colónia.
Eis uma coisa estranha sobre Portugal: comemora com feriado, pompa e circunstância um episódio apesar de tudo menor na sua História e não comemora aquele que terá sido talvez o mais importante. Estranho também é que celebre a restauração da independência (1 de Dezembro) sem chegar sequer a comemorar a sua instauração. Tudo isto é mais estranho ainda quando falamos de um dos países mais bem sucedidos da História do mundo. Não há muitos outros que possam orgulhar-se de ter sobrevivido praticamente um milénio como unidade política unificada e constante. Aqui ao lado, o nosso vizinho tem quase metade da idade e está sempre a ameaçar partir-se: ainda hoje vivem por lá muitos que não querem ser espanhóis e, por isso, matam e destroem. Logo ao norte, a França, ainda mais recente na forma actual, é talvez o país mais bruto da Europa, sempre na busca do império continental. Do outro lado do canal da Mancha, o Reino Unido, uma criação recentíssima (do século XVIII) e de que uma das principais partes (a Escócia) ameaça agora ir-se embora. Mais para o interior, a Alemanha, que nem 150 anos tem: antes era a confusão do Sacro Império Romano (o tal que não era sacro, nem romano, nem sequer império). Pelo meio, a Holanda e a Bélgica, países sempre invadidos, ora pelos franceses ora pelos alemães, nunca percebendo bem porquê. Para sul, a Itália, que só agora comemora 150 anos de existência e ninguém garante fique entre nós outros tantos. E quanto mais seguimos para leste pior é.
Eis mais uma coisa estranha sobre Portugal: se foi tão bem sucedido até agora, porque duvidam tanto os portugueses do seu futuro e sobrevivência? Porque querem tantos portugueses encomendá-lo às crianças irresponsáveis e violentas do norte? Só porque o défice orçamental ultrapassa 3% do PIB e a dívida 60%? Parece fraca razão. Já cá estamos há mais tempo que a maior parte dos outros europeus. Basta querermos para lhes sobrevivermos também.
Fonte: Diário Económico
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