domingo, 16 de novembro de 2008

Horário de trabalho

Resposta ao Caríssimo que veio aos jornais INDIGNAR-SE contra os professores.
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> Tal demonstra bem como os profs trabalham tanto e "nem se dá por ela".
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> Caro anónimo indignado com a indignação dos professores,
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> Homens (e as mulheres) não se medem aos palmos, medem-se, entre outras
> coisas, por aquilo que afirmam, isto é, por saberem ou não saberem o
> que dizem e do que falam.
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> O caro anónimo mostra-se indignado (apesar de não aceitar que os
> professores também se possam indignar! Dualidade de critérios deste
> nosso estimado anónimo... Mas passemos à frente) com o excesso de
> descanso dos professores: afirma que descansamos no Natal, no
> Carnaval, na Páscoa e no Verão, (esqueceu-se de mencionar que também
> descansamos aos fins-de-semana). E o nosso prezado anónimo insurge-se
> veementemente contra tão desmesurada dose de descanso de que os
> professores usufruem e de que, ao que parece, ninguém mais usufrui.
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>
>
> Ora vamos lá ver se o nosso atento e sagaz anónimo tem razão. Vai
> perdoar-me, mas, nestas coisas, só lá vamos com contas.
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>
> O horário semanal de trabalho do professor é 35 horas. Dessas trinta e
> cinco, 11 horas (em alguns casos até são apenas dez) são destinadas ao
> seu trabalho individual, que cada um gere como entende. As outras 24
> horas são passadas na escola, a leccionar, a dar apoio, em reuniões,
> em aulas de substituição, em funções de direcção de turma, de
> coordenação pedagógica, etc., etc.
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>
>
> Bom, centremo-nos naquelas 11 horas que estão destinadas ao trabalho
> que é realizado pelo professor fora da escola (já que na escola não há
> quaisquer condições de o realizar): preparação de aulas, elaboração de
> testes, correcção de testes, correcção de trabalhos de casa, correcção
> de trabalhos individuais e/ou de grupo, investigação e formação
> contínua. Agora, vamos imaginar que um professor, a quem podemos
> passar a chamar de Simplício, tem 5 turmas, 3 níveis de ensino, e que
> cada turma tem 25 alunos (há casos de professores com mais turmas,
> mais alunos e mais níveis de ensino e há casos com menos - ficamos por
> uma situação média, se não se importar). Para sabermos o quanto este
> professor trabalha ou descansa, temos de contar as suas horas de
> trabalho.
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> Vamos lá, então, contar:
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> 1. Preparação de aulas: considerando que tem duas vezes por semana
> cada uma dessas turmas e que tem três níveis diferentes de ensino, o
> professor Simplício precisa de preparar, no mínimo, 6 aulas por semana
> (estou a considerar, hipoteticamente, que as turmas do mesmo nível são
> exactamente iguais -- o que não acontece -- e que, por isso, quando
> prepara para uma turma também já está a preparar para a outra turma do
> mesmo nível). Vamos considerar que a preparação de cada aula demora 1
> hora. Significa que, por semana, despende 6 horas para esse trabalho.
> Se o período tiver 14 semanas, como é o caso do 1.º período do
> presente ano lectivo, o professor gasta um total de 84 horas nesta
> tarefa.
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>
>
> 2. Elaboração de testes: imaginemos que o prof. Simplício realiza, por
> período, dois testes em cada turma. Significa que tem de elaborar dez
> testes. Vamos imaginar que ele consegue gastar apenas 1 hora para
> preparar, escrever e fotocopiar o teste (estou a ser muito poupado,
> acredite), quer dizer que consome, num período, 10 horas neste
> trabalho.
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>
> 3. Correcção de testes: o prof. Simplício tem, como vimos, 125 alunos,
> isto implica que ele corrige, por período, 250 testes. Vamos imaginar
> que ele consegue corrigir cada teste em 25 minutos (o que, em muitas
> disciplinas, seria um milagre, mas vamos admitir que sim, que é
> possível corrigir em tão pouco tempo), demora mais de 104 horas para
> conseguir corrigir todos os testes, durante um período.
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>
> 4. Correcção de trabalhos de casa: consideremos que o prof. Simplício
> só manda realizar trabalhos para casa uma vez por semana e que corrige
> cada um em 10 minutos. No total são mais de 20 horas (isto é, 125
> alunos x 10 minutos) por semana. Como o período tem 14 semanas, temos
> um resultado final de mais de 280 horas.
>
>
>
> 5. Correcção de trabalhos individuais e/ou de grupo: vamos pensar que
> o prof. Simplício manda realizar apenas um trabalho de grupo, por
> período, e que cada grupo é composto por 3 alunos; terá de corrigir
> cerca de 41 trabalhos. Vamos também imaginar que demora apenas 1 hora
> a corrigir cada um deles (os meus colegas até gargalham, ao verem
> estes números tão minguados), dá um total de 41 horas.
>
>
>
> 6. Investigação: consideremos que o professor dedica apenas 2 horas
> por semana a investigar, dá, no período, 28 horas (2h x 14 semanas).
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> 7. Acções de formação contínua: para não atrapalhar as contas, nem vou
> considerar este tempo.
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> Vamos, então, somar isto tudo:
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> 84h+10h+104h+280h+41h+28h=547 horas.
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> Multipliquemos, agora, as 11horas semanais que o professor tem para
> estes trabalhos pelas 14 semanas do período: 11hx14= 154 horas.
>
> Ora 547h-154h=393 horas. Significa isto que o professor trabalhou, no
> período, 393 horas a mais do que aquelas que lhe tinham sido
> destinadas para o efeito.
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> Vamos ver, de seguida, quantos dias úteis de descanso tem o professor no Natal.
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> No próximo Natal, por exemplo, as aulas terminam no dia 18 de
> Dezembro. Os dias 19, 22 e 23 serão para realizar Conselhos de Turma,
> portanto, terá descanso nos seguintes dias úteis: 24, 26, 29 30 e 31
> de Dezembro e dia 2 de Janeiro. Total de 6 dias úteis. Ora 6 dias
> vezes 7 horas de trabalho por dia dá 42 horas. Então, vamos subtrair
> às 393 horas a mais que o professor trabalhou as 42 horas de descanso
> que teve no Natal, ficam a sobrar 351 horas. Quer dizer, o professor
> trabalhou a mais 351 horas!! Isto em dias de trabalho, de 7 horas
> diárias, corresponde a 50 dias!!! O professor Simplício tem um crédito
> sobre o Estado de 50 dias de trabalho. Por outras palavras, o Estado
> tem um calote de 50 dias para com o prof. Simplício.
>
>
>
> Pois é, não parecia, pois não, caro anónimo? Mas é isso que o Estado
> deve, em média, a cada professor no final de cada período escolar.
>
>
>
> Ora, como o Estado somos todos nós, onde se inclui, naturalmente, o
> nosso prezado anónimo, (pressupondo que, como nós, tem os impostos em
> dia) significa que o estimado anónimo, afinal, está em dívida para com
> o prof. Simplício. E ao contrário daquilo que o nosso simpático
> anónimo afirmava, os professores não descansam muito, descansam pouco!
>
>
>
> Veja lá os trabalhos que arranjou: sai daqui a dever dinheiro a um
> professor. Mas, não se incomode, pode ser que um dia se encontrem e,
> nessa altura, o amigo paga o que deve.
>
>
>
> Para que seja clarificada a situação, para que todos estejamos
> correctamente informados , por favor, reencaminhem para todos os
> amigos, conhecidos e anónimos!!!
>
>
>
>
>
>
> No

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