terça-feira, 23 de agosto de 2011

BANCO CENTRAL EUROPEU

Vejamos este simples exemplo explicando o Banco Central Europeu...








O BCE explicado na esplanada do café...







A Primavera esmerou-se. Um sol agradável acariciava-nos na esplanada

do café à beira da minha porta. A chegada do Senhor Antunes, o mais

popular dos meus vizinhos, deu ensejo a uma lição sobre Europas e

finanças a nós todos que disto pouco ou nada percebemos.



- Oh Sô Antunes explique lá isso do Banco Central Europeu, aqui à

rapaziada do Café.



- Então vá, vá lá, Só por esta vez. O BCE é o banco central dos

Estados da UE que pertencem à zona euro, como é o caso de Portugal.



- E donde veio o dinheiro do BCE?



- O capital social, o dinheiro do BCE, é dinheiro de nós todos,

cidadãos da UE, na proporção da riqueza de cada país. Assim, à

Alemanha correspondeu 20% do total. Os 17 países da UE que aderiram ao

euro entraram no conjunto com 70% do capital social e os restantes 10

dos 27 Estados da UE contribuiram com 30%.



- E é muito, esse dinheiro?



- O capital social era 5,8 mil milhões de euros mas no fim do ano

passado foi decidido fazer o 1º aumento de capital desde que há cerca

de 12 anos o BCE foi criado, em três fases. No fim de 2010, no fim de

2011 e no fim de 2012 até elevar a 10,6 mil milhões o capital do

banco.



- Então, se o BCE é o banco destes Estados pode emprestar dinheiro a

Portugal, não? Como qualquer banco pode emprestar dinheiro a um ou

outro dos seus accionistas.



- Não, não pode.



- ???



- Porquê? Porque... porque, bem... são as regras.



- Então, a quem pode o BCE emprestar dinheiro?



- A outros bancos, já se vê, a bancos alemães, bancos franceses ou portugueses.



- Ah percebo, então Portugal, ou a Alemanha, quando precisa de

dinheiro emprestado não vai ao BCE, vai aos outros bancos que por sua

vez vão ao BCE e tal.



- Pois.



- Mas para quê complicar? Não era melhor Portugal ou a Grécia ou a

Alemanha irem directamente ao BCE?



- Não. Sim. Quer dizer... em certo sentido... mas assim os banqueiros

não ganhavam nada nesse negócio!



- ??!!..



- Sim, os bancos precisam de ganhar alguma coisinha. O BCE de Maio a

Dezembro de 2010 emprestou cerca de 72 mil milhões de euros a países

do euro, a chamada dívida soberana, através de um conjunto de bancos

XPTO, a 1% e esse conjunto de bancos XPTO emprestaram ao Estado

português e a outros Estados a 6 ou 7%.



- Mas isso assim é um "negócio da China"! Só para irem a Bruxelas

buscar o dinheiro!



- Neste exemplo, ganharam uns 3 ou 4 mil milhões de euros. E não têm

de se deslocar a Bruxelas, nem precisam de levantar o cu da cadeira. E

qual Bruxelas qual carapuça. A sede do BCE é na Alemanha, em

Frankfurt, onde é que havia de ser?



- Mas, então, isso é um verdadeiro roubo... com esse dinheiro

escusava-se até de cortar nas pensões, no subsídio de desemprego ou de

nos tirarem o 13º mês, que já dizem que vão tirar...



- Mas, oh seu Zé, você tem de perceber que os bancos têm de ganhar

bem, senão como é que podiam pagar os dividendos aos accionistas e

aqueles ordenados aos administradores que são gente muito

especializada.



- Mas quem é que manda no BCE e permite um escândalo destes?



- Mandam os governos dos países da zona euro. A Alemanha em primeiro

lugar que é o país mais rico, a França, Portugal e os outros países.



- Deixa ver se percebo. Então, os Governos dão o nosso dinheiro ao BCE

para eles emprestarem aos bancos a 1% para depois estes emprestarem a

5 e a 7% aos Governos donos do BCE?



- Não é bem assim. Como a Alemanha é rica e pode pagar bem as dívidas,

os bancos levam só uns 3%. A nós ou à Grécia ou à Irlanda que estamos

de corda na garganta e a quem é mais arriscado emprestar é que levam

juros a 6%, a 7 ou mais.



- Nós somos os donos do dinheiro e nós não podemos pedir ao nosso banco...



- Nós, nós, qual nós? O país, Portugal ou a Alemanha, é composto por

gentinha vulgar e por pessoas importantes que dão emprego e tal. Você

quer comparar um borra-botas qualquer que ganha 400 ou 600 euros por

mês ou com um calaceiro que anda para aí desempregado com um grande

accionista que recebe 5 ou 10 milhões de dividendos por ano, ou com um

administrador duma grande empresa ou de um banco que ganha, com os

prémios a que tem direito, uns 50, 100, ou 200 mil euros por mês. Não

se pode comparar.



- Mas, e os nossos Governos aceitam uma coisa dessas?



- Os nossos Governos, os nossos Governos... mas o que é que os

governos podem fazer? Por um lado, são, na maior parte, amigos dos

banqueiros ou estão à espera dos seus favores, de um empregozito

razoável quando lhes faltarem os votos. Em resumo, não podem fazer

nada, senão quem é que os apoiava?



- Mas oh que porra de gaita! Então eles não estão lá eleitos por nós?



- Em certo sentido, sim, é claro, mas depois... quem tem a massa é que

manda. Não viu isto da maior crise mundial de há um século para cá?

Essa coisa a que chamam sistema financeiro que transformou o mundo da

finança num casino mundial como os casinos nunca tinham visto nem

suspeitavam e que ia levando os EUA e a Europa à beira da ruína? É

claro, essas pessoas importantes levaram o dinheiro para casa e

deixaram a gentinha que tinha metido o dinheiro nos bancos e nos

fundos a ver navios. Os governos, então, nos EUA e cá na Europa, para

evitar a ruína dos bancos tiveram que repor o dinheiro.



- E onde o foram buscar?



- Onde havia de ser!? Aos impostos, aos ordenados, às pensões. Donde é

que havia de vir o dinheiro do Estado?...



- Mas meteram os responsáveis na cadeia?



- Na cadeia? Que disparate. Então, se eles é que fizeram a coisa,

engenharias financeiras sofisticadíssimas, só eles é que sabem aplicar

o remédio, só eles é que podem arrumar a casa. É claro que alguns mais

comprometidos, como Raymond McDaniel, que era o presidente da Moody's,

uma dessas agências de rating que classificaram a credibilidade de

Portugal para pagar a dívida como lixo e atiraram com o país ao

tapete, foram passados à reforma. O Sr. McDaniel é uma pessoa

importante, levou uma indemnização de 10 milhões de dólares a que

tinha direito.



- Oh Sor Antunes, então como é? Comemos e calamos?



- Isso já não é comigo, eu só estou a explicar...







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