Milionários portugueses nem querem ouvir falar em sacrifícios
A imprensa económica tentou ouvir a reacção dos portugueses mais ricos à proposta dos magnatas franceses de contribuírem com mais impostos em tempo de crise. As respostas foram poucas e só Américo Amorim surpreendeu: o dono da maior fortuna de Portugal diz mesmo que não se considera rico.
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24 Agosto, 2011 - 12:54
Em 2009, havia 150 famílias em Portugal a viver com mais de um milhão de euros por ano. Foto mek22/Flickr "Eu não me considero rico", diz o homem que tem obtido uma valorização da sua fortuna muito graças à fatia da GALP que adquiriu quando a empresa foi privatizada e lhe garante lucro crescente todos os anos. "Sou trabalhador", contrapôs Amorim ao Jornal de Negócios, sem mais explicações. Ao Diário Económico, que procurou fazer o mesmo inquérito, o milionário não respondeu.
O silêncio foi a regra na resposta a este desafio lançado por ambos os jornais aos que integram a lista dos 25 mais ricos de Portugal, recentemente divulgada pela revista Exame. Uma das excepções foi o 12º colocado nessa lista, Joe Berardo, com uma fortuna avaliada em 542 milhões. O empresário diz que esta medida "não resolve o problema" da dívida, mas concorda que "quem deve pagar mais é quem tem mais".
A mesma opinião sobre o impacto do imposto sobre os mais ricos tem André Jordan, empresário do turismo. Tal como Amorim, Jordan assegura que não é milionário. Mas ao contrário do homem da cortiça e do petróleo, admite pagar um imposto semelhante.
Uma reacção diferente teve Patrick Monteiro de Barros. Sem responder sobre se estaria disposto a pagar o imposto, o homem que tem dado a voz pelo lóbi da energia nuclear mostrou-se mais interessado em querer saber qual foi a contrapartida exigida pelos milionários franceses em troca da sua generosidade. "Se é um acto solidário é uma coisa, agora imagine se é uma proposta para o doutor Sarkozy mudar a sua perspectiva sobre os 'eurobonds'?", perguntou aos jornalistas do Negócios.
Para alguns dos mais ricos em Portugal, o imposto sugerido pelos milionários franceses traz memórias de outros tempos que encaram com desagrado. "Já em 1974 havia esse 'slogan', 'os ricos que paguem a crise'", diz Luís de Mello Champalimaud, dono da Cimentos Liz e de 325 milhões, segundo o ranking publicado pela Exame. Para Luís Champalimaud, os problemas resolvem-se "quando a Justiça começar a ser eficaz e célere e quando o contribuinte e os seus impostos passarem a ser respeitados".
O Diário Económico conseguiu encontrar três empresários dispostos a contribuir. José Roquette propõe que o imposto seja feito através duma sobretaxa no IRC, que considera mais justo "porque assim será aplicada às grandes empresas e aos seus accionistas". Filipe de Botton, da Logoplaste, diz acreditar que os "todos os empresários portugueses são a favor de qualquer medida que minimize as desigualdades sociais" e Henrique Neto, da Iberomoldes e antigo deputado do PS, recorda que já propôs para o Orçamento deste ano um imposto especial sobre "rendimentos acima dos 100 mil euros, que fosse progressivo daí para cima".
De acordo com os números referentes a 2009, há 150 famílias em Portugal a viver com mais de um milhão de euros por ano. Este ano, Américo Amorim lidera a lista de milionários da Exame pelo quarto ano consecutivo, com 2587 milhões de euros - mais 18% que em 2010.
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